A história faz-se de muitas histórias.
Outubro é mês de grandes datas. Comemoramos a luta contra a pobreza e reconhecemos a importância dos que atingem uma fase da vida avançada, a que vamos chamando vários nomes e designações, mais ou menos felizes.
É bem certo que vamos colhendo o que ao longo da vida semeamos.
Quando damos amor, quando pegamos ao colo, é previsível, não garantido, que, se necessitarmos virão ao nosso socorro e nos mimem e confortem.
Mas se por um lado toda uma vida fomos egoístas e não pudemos ou soubemos dar colo, poderá chegar o momento em que as nossas forças cedam, mas que ninguém se mobilize para nos cuidar.
Será que quando confrontados com as incapacidades do outro que não nos cuidou, mas que agora necessita de nós conseguimos ultrapassar e fazer de conta que o passado não dói?
Que significativo e crescente é o número de idosos que são abandonados nos hospitais?
Quantas vezes se acionam os Serviços para exigir responsabilidades…
A história dos abandonos emocionais e a atitude de desapego perante o outro está a transformar-nos em seres pouco humanos.
A velhice…esta capacidade de vivermos cada vez mais anos, a que nos levará…??
Mesmo quando tivemos a sorte de ser muito amados e que tivessem vivido para nos dar tudo o que temos e somos, mesmo quando reconhecemos o esforço que fizeram para podermos ter uma vida melhor do que a sua, mesmo assim, custa a aceitarmos quando as capacidades dos nossos se vergam.
Mas eu ainda sou seu;
Mas a outra pessoa, sendo a mesma, é outra, que é diferente, mas que continuo a amar.
Quem passou a ocupar o espaço das lembranças de si e dos outros, parecendo esquecer que um dias nos acolheu?
Que bicharoco será o que nos rouba aqueles com os quais vivemos e que agora estão tão diferentes.
Quem mora agora aí em cima?
Temos que aprender, temos que nos dedicar a conhecer estas novas pessoas. Que não deixamos de amar, mas que nos obrigam a ginasticar os nossos afetos e perceber que estas pessoas transformadas são o resultado de toda uma história escrita num livro que gostamos de reler.
Teresa Gaspar
Mesária
