OPINIÃO

Falar de “A CAÇA” Filmado em Vagos em 1963 por Manoel de Oliveira

O CANTINHO DE JOÃO FERREIRA

Poucos vaguenses atualmente vivos se recordarão que Manoel de Oliveira, o genial realizador de filmes, filmou grande parte do filme “A Caça” em Vagos, de que ainda hoje está vivo, um dos principais intérpretes, o Rodrigues, que vive atualmente nos E.U.A., segundo me revelou há tempos uma senhora, moradora em Vagos, cunhada dele, viúva de um irmão, o José.
Antes de abordar um pouco o tema do filme “A Caça”, saiba-se que, em tempos, quando eu era proprietário do “Eco de Vagos”, foi exibido no Salão Paroquial esse filme realizado por Manoel de Oliveira, a que fiz referência, com começo na primeira página do “Eco de Vagos”. Em referência a Manoel de Oliveira devo dizer que um dos últimos filmes que vi realizados por este foi “Singularidades de uma Rapariga Loura”, extraído de um conto de Eça de Queirós, embora adaptado ao nosso tempo. Vi também diversos filmes realizados por Manoel de Oliveira, um dos quais “Amor de Perdição”, em versão a cores e diversos outros e até o vi no início, quando ele também foi ator, no filme “A Canção de Lisboa”. Mas agora estou a referir-me ao filme “A Caça”.
Os locais onde a maior parte do filme “A Caça” foi filmado estão hoje todos ou quase todos modificados. Um deles foi na traseira da capela da Misericórdia, onde os dois principais rapazes do filme iam “gozar” um pouco com o senhor que fazia o papel de sapateiro, que era o sr. Albino Freitas, com quem eu trabalhei na antiga Cerâmica dos Cunhas, outro local era no centro de Vagos, na antiga quinta dos eucaliptos onde, por meio de montagem “passava” o comboio.
Aí os dois rapazes amigos, zangaram-se e depois de uma luta separavam-se e depois um deles caía no lodo, onde há diversas cenas até que o rapaz, que está no lodo e vai a ser engolido acaba por ser salvo, com a ajuda de gente que vem ali, de um barco moliceiro que passava no rio Boco próximo e vai acudir.
O filme começa com uma raposa a devorar uma ave numa cerca dos familiares de Isidro das Neves Santo. Dos que entravam no filme, como já disse, só está vivo, o que está nos E.U.A.
Lembro-me também das cenas, no local designado por “Pousadas”, entre Vagos e Lombomeão, em que vinham o Joaquim Armando da Cruz, conhecido por “Catalão, e o conhecido por “Toneco”, que “estavam” nos papéis de fiscais da Venatória, ligada à caça.
Há também a cena no Matadouro, na Gafanha de Aquém, em Ílhavo, edifício que já não existe, em que um dos protagonistas pede a espingarda ao que fazia o papel de pai, que lha nega.
No filme aparecem diversas pessoas de Vagos, todas já falecidas, que são além dos que já mencionei o sr. Mariano, João Verdade, Manuel de Sá Maganinho, Manuel “Camioneta”, Manuel da “Venda”, como era conhecido e mais um ou outro e outra.
Após o 25 de abril, lembro-me de ter sido exibido na R.T.P., 1.º Canal o filme “A Caça”, mas completo que antes a Censura não consentiu. Era o rapaz, que estava a afogar-se no lodo a “ver” caveiras, de seres humanos.
O filme terminava com uma quantidade de homens a dar as mãos para salvar o rapaz que estava a afundar-se no lodo e Manuel de Sá Maganinho, sem a mão, que lhe foi retirada após um foguete lha estourar na festa de Soza a pedir:
-A mão! A mão! A mão!
A respeito do filme ” A Caça” quando alguém disse a Manoel de Oliveira que os intérpretes representavam mal este disse:
” Eles não representavam mal nem bem. Eram como eles mesmos e falavam como eles estão habituados a falar.
Para terminar vou publicar a foto dos principais intérpretes um dos quais ainda vivo, o Rodrigues que é o da esquerda, sendo o João de Almeida o da direita.
Na foto está também o João Verdade.

João dos Santos Ferreira

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