OPINIÃO

Pela investigação científica

Vivemos num mundo onde a constante busca pelo conhecimento é fundamental. Assim foi desde sempre, onde os povos com mais conhecimento, mais facilidade para a inovação e estratégia eram os que tinham melhores condições de vida, de sobrevivência e que, assim, mais facilmente conseguiam ganhar as batalhas contra os outros povos. Foi também através do conhecimento e do esforço que os portugueses conseguiram dar novos mundos ao mundo. Foi através da inovação e da ciência que se conseguiu aumentar a esperança média de vida das populações e até erradicar algumas das patologias mais mortais que a humanidade assistiu.
Alguns exemplos são paradigmáticos e ajudaram efetivamente a salvar vidas, não só pela própria descoberta, mas pelas portas que se abriram, como por exemplo: a introdução do conceito de vacinas por Edward Jenner, com a vacina contra a varíola em 1796 ou o desenvolvimento do motor elétrico, em 1838, por Moritz Hermann Von Jacobi.
Esta pandemia veio expor o “elefante” que está presente na sala e que alguns querem ignorar: a investigação científica é uma área fundamental, não só para o nosso desenvolvimento como país, mas também para a garantia de sobrevivência da nossa espécie.
Podemos e devemos usar a investigação e o desenvolvimento (I&D) tecnológico e científico, não só para ajudar a alavancar a economia nacional através da criação de conhecimento útil para as indústrias, mas também porque permite a melhoria da vida concreta das pessoas. Uma investigação forte e sustentada com dinheiro de todos nós (público) é essencial, uma vez que deve possibilitar estudos em todas as áreas, mesmo naquelas que aparentemente não se perspetive virem a ser rentáveis para as grandes indústrias.
Nos últimos anos, alguns avanços têm sido feitos na investigação em Portugal, como o Programa de Regularização Extraordinária dos Vínculos Precários na Administração Pública (PREVPAP) ou o crescente valor de dotações orçamentais públicas para I&D. No entanto, não podem esquecer que a precariedade ainda é vigente e normalizada no setor, já que muitos investigadores têm vindo a trabalhar durante décadas com vínculos precários, sendo este um dos grandes entraves a uma melhor e mais eficiente busca pelo conhecimento. Para além disso, em 2020 apenas 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) foi gasto em ciência, inferior à média europeia (2,19%). Este valor em países como a Áustria, a Suécia ou a Alemanha é mais do dobro.
É por isso imperativa uma aposta mais sustentada na investigação em Portugal. Em primeiro lugar deve ser valorizada a carreira dos investigadores, evitando que mentes brilhantes tenham que abandonar o nosso país para se sentirem profissionalmente realizadas. Em segundo lugar deve-se explorar uma maior ligação entre os centros de investigação e as indústrias, procurando que o conhecimento gerado pelas faculdades e centros de investigação seja utilizado para melhorar o dia-a-dia das comunidades.
No seu programa eleitoral, o atual partido que forma governo, tem como compromisso aumentar progressivamente o investimento global em I&D até atingir 3% do PIB em 2030 (atualmente nos países supracitados este valor já é superior) e a intenção de reforçar a valorização do emprego científico. Veremos se tal investimento se efetiva. Estejamos atentos.

Rafael Catarino
Estudante de Doutoramento

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