OPINIÃO

Sobre Júlio Dinis e o Natal mais triste da minha vida

Nativity scene with baby Jesus. The Magi in the nativity scene. Christmas decor in the church.

O cantinho de João Ferreira
Quando o autor deste modesto trabalho foi emigrar para Oyonnax em 1971, a então “Emissora Nacional” transmitia o romance de Júlio Dinis: “Os Serões da Província”, isto dado os 100 anos da morte desse romancista. E eu ouvia deleitado no rádio do Sr. Fernando Lourenço, o ditar desse romance que, de lá para cá, já reli algumas vezes. “Os Serões da Província”, é um romance composto por vários contos.
Fui sempre, desde criança, um ávido leitor dos melhores autores portugueses (e não só). Assim sendo, como não poderia faltar, conheço a obra de Júlio Dinis e sou grande admirador, não só da mesma como do autor. Ainda possuo os seus cinco romances, que são, a par com o anteriormente referido, “Uma Família Inglesa”, “A Morgadinha dos Canaviais”, “As Pupilas do Senhor Reitor”, e “Os Fidalgos da Casa Mourisca”. As obras deste autor foram adaptadas ao cinema e televisão, e, tendo visionado todas: “As Pupilas do Senhor Reitor”, os dois filmes, um a preto e branco, e outro a cores (este com artistas brasileiros e tudo).
A série d’”As Pupilas do Senhor Reitor” não chegou a ser completada, por causa da troca de mãos do canal de televisão que a transmitia. Quanto aos dois filmes, ambos contaram com a atuação de António Silva, e sendo a história a mesma, o ator desempenhou duas vezes o mesmo papel. A Rádio e Televisão portuguesa também transmitiu o médico João Semana, d’”As Pupilas do Senhor Reitor” interpretado por Nicolau Breyner.
Voltando à minha primeira viagem de trabalho em França, cabe-me partilhar uma das histórias mais tristes da minha existência. De trinta e nove anos feitos, já em Oyonnax, tendo menos de dois meses de trabalho dados à casa, vi-me impossibilitado de passar o Natal em Portugal, perto dos meus. Vieram de lá o meu irmão Manuel Armando, o Sr. Fernando Lourenço e o Sr. João Clemente. Ora eu não vim, por que caso contrário, ia gastar na viagem tudo o que tinha “forrado”.
Era o Natal de 71… e eu fiquei sozinho. Mas nem era esse o maior mal: eu nem sequer sabia a língua francesa para me desenvencilhar. A minha companhia era o aparelho de rádio que o Sr. Fernando Lourenço me tinha deixado emprestado à despedida. Nesse tempo de solidão e tristeza, virei-me para o trabalho, tendo conseguido no mês de novembro, uma espécie de record: 290 horas de trabalho! Uma espantosa média de 10 horas diárias sendo que só parei no último dia.
A minha esposa Maria Lina, quando lhe enviei o cheque de novembro, se bem recordo oito mil e trezentos escudos (já paga a vivência do dito mês) deixou um papel em Portugal que dizia “O João ganhou mais neste mês em França do que ganharia em três ou quatro em Portugal”.
Já em anos passados tinha celebrado as festas sozinho por duas vezes em Lisboa, mas não tem comparação o passar das festas sozinho em Cascais, onde podia conversar com quem quisesse, do que em França onde nem podia falar nada com ninguém.
Assim gostava nesta época prévia ao Natal e Ano Novo, de desejar aos meus leitores não só boas festas, mas, umas festas na companhia das pessoas que lhe são mais queridas.

João dos Santos Ferreira

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