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Os 8 anos do projeto do AEV
De 2014 a 2023 muito se fez, mas muito há, ainda, que fazer e é disto que nos iremos ocupar seguidamente:
O que se fez: criaram-se 2 Centros Náuticos provisórios (em 4 contentores), na Quinta do Ega, em Vagos e na Vagueira; adquiriu-se muito material náutico de Vela (14 embarcações), Canoagem (55 caiaques, de diversas tipologias), Surf e Paddle (14 pranchas), 3 barcos a motor, de apoio à segurança e material individual (fatos térmicos, sapatos náuticos, coletes de flutuabilidade, etc.). Há o necessário e, até, bastante mais do que isso. Durante estes anos, houve cerca de 25 mil utilizações do CFD: todos os alunos, do 1º ao 12º ano (são mais de dois mil), experimentam pelo menos uma aula por ano e existem equipas de competição escolar de Canoagem, Vela e Surf, que treinam semanalmente e fazem competições escolares. O AEV também colabora em eventos locais e incentiva a prática de lazer, durante o verão, para a população adulta (cedendo os seus equipamentos náuticos e colaborando com a Associação de Surfistas de Vagos (ASV) na dinamização da ria da Vagueira. Fizeram-se protocolos com organizações que podem colaborar (como o Clube de Vela da Costa Nova, o Vagos Sport Clube, a Federação Portuguesa de Canoagem, a Balsa, etc) e contrataram-se treinadores das 3 modalidades, a quem se paga, mas que, pela sua competência, acrescentam valor.
Fez-se muito? Evoluiu-se muito em 8 anos? Sem dúvida que sim. No canal de Mira da ria de Aveiro, no rio Boco e nas praias da Vagueira e do Labrego, já se vêm veleiros, caiaques e pranchas de surf, já há alguma dinâmica, já se venceu a inércia, já se perdeu o medo e já se fazem algumas atividades.
O que falta fazer? Bom, aí está o principal tópico da reflexão, porque tem de se continuar, de se evoluir, de se fazer mais e melhor. Tem de se criar sinergias, juntar vontades e entidades, tem de se gastar (investir) dinheiro e concretizar ideias. Este vetor pode ser estratégico para o desenvolvimento do concelho: o turismo náutico, dirigido quer para os vaguenses, quer para quem visitar Vagos.
Atingido o primeiro patamar, têm se criar condições para se atingir outro, mais evoluído. Vejamos, então, o contributo de cada um dos parceiros para um projeto comum:
O Agrupamento de Escolas de Vagos-pouco mais pode fazer, do que aquilo que tem sido a sua prática nos últimos anos: sensibilizar os seus dois mil alunos para projetos náuticos, manter os grupos-equipa das 4 modalidades náuticas (e interagir com o clubes náuticos locais), ir adquirindo novas embarcações, manter a sua rede de parceiros (locais, regionais e nacionais), colaborar em eventos dirigidos à comunidade, ir melhorando a formação dos professores e manter os seus Centros Náuticos provisórios, atualmente alojados em contentores.
A sociedade civil-deveria organizar-se para criar um clube náutico. Nas décadas de 80/90 existiu o Clube de Canoagem e Aventura de Vagos que, após alguns anos de excelente atividade, se tornou inativo. É o momento de se voltar a organizar (ou de renascer), para assumir, pelo menos, a vertente da competição em Canoagem e Vela. As várias tentativas desenvolvidas neste sentido, nos últimos anos, falharam por falta de dirigentes benévolos e é fundamental que exista um clube local que dê continuidade ao trabalho de formação de base do AEV. A Associação de Surfistas de Vagos (ASV), dedicando-se ao Surf e numa escala reduzida não consegue, para já, preencher esta lacuna.
Os operadores privados- as escolas desportivas náuticas, mesmo que com caráter lucrativo, são fundamentais e o exemplo da Secret Surf School, entidade privada organizada como secção autónoma do Vagos Sport Clube é um excelente exemplo, até pela interação que tem tido com o AEV e pelos excelentes resultados obtidos quer na competição, quer na generalização da prática surfista.
As instalações náuticas– necessitam de melhorar, porque não se pode viver eternamente na precariedade. Os contentores que serviram inicialmente, terão de ser substituídos por Centros Náuticos definitivos (na Vagueira e em Vagos). Têm de existir rampas de acesso aos planos de água (para as embarcações terem entrada e saída) e “guinchos”, para facilitar estas operações.
Técnicos especializados– O elemento humano é fundamental e a ação dos professores de Educação Física, com um perfil generalista, tem de ser completada pela ação mais especializada de treinadores das modalidades náuticas. Vagos, para evoluir neste domínio, terá de ter ao seu serviço técnicos com este perfil e em regime de tempo integral. O AEV, com os seus reduzidos recursos, tem contratado alguns treinadores “para ajudar” algumas horas por mês, mas muito mais é necessário.
A Câmara Municipal– Já se referiu em textos anteriores que as autarquias deverão ser as entidades liderantes do sistema desportivo local e, por isso, só com um forte empenhamento autárquico (investindo esforço e recursos e mobilizando os restantes agentes) será possível dar o salto qualitativo que se pretende, passando para um patamar mais evoluído. A criação de uma Estação Náutica (integrada na rede nacional) e o projeto de construção das instalações náuticas definitivas na ria da Vagueira são iniciativas que se registam neste percurso de melhoria. Esperamos que outras acresçam…
Paulo Branco