OPINIÃO

As “Festas de Vagos” de antigamente

Cantinho de João Ferreira

O “Cantinho de João Ferreira”, a partir desta edição, passará a ter um novo formato, mais em tom de entrevista, que contará com a participação do meu neto Tiago Matos.
Começaremos por falar das Festas de Vagos, abordando como essas eram antigamente e como, até João Grave, grande escritor Vaguense, as descreveu, num dos seus romances. As Festas de antigamente que vou referir decorreram faz mais de oitenta anos (durante os meus verdes anos). A festa tinha, a um quilómetro antes do Santuário da Nossa Senhora de Vagos, dezenas de mendigos que vinham de toda a parte para pedir esmola, e alguns diziam: “dai esmola a este pobre mendigo que tem o braço todo comidinho por “câncaru”, e as pessoas comovidas davam o que podiam. Enquanto ao redor do santuário havia muito povo, que dentro da capela orava à Nossa Senhora, cá fora havia a distribuição do bodo, tradição que se mantém até aos dias de hoje… até distribuíam pão pelas irmandades que vinham de Cantanhede. E pergunta o meu neto: “que mais havia de redor do Santuário?”
Havia senhoras com cântaros de água que vendiam um púcaro por cinquenta centavos, ou seja, meio escudo, enquanto apregoavam “quem quer comprar um púcaro de água fresquinha?”. Essa água era trazida pelas mulheres de poços próximos, sendo que não havia água canalizada. Havia também jogos de roleta e venda de moinhos de papel para crianças. Havia, mais que isso, jogos com três bolas de madeira no chão, uma espécie de bilhar cego, mas jogado à mão. Tudo isto durante a segunda-feira da festa em honra à Senhora de Vagos. À noite, era a chegada da procissão das velas que terminava na igreja com a imagem da Nossa Senhora, e pergunta o meu neto: “isso era na segunda… como era na terça?”
Na terça-feira rezava-se a missa matinal, ainda no Santuário, e, quando o povo de Cantanhede vinha à despedida no centro de Vagos, havia fogueteiros a lançar cada um o seu foguete em fila desde o Palacete Visconde de Valdemouro até ao edifício dos Bombeiros. À tarde, a festa dava-se no pinhal de São João e as pessoas comiam o almoço que traziam de casa, ficando ali até ao entardecer (hoje em dia dá-se a tradicional sardinhada na Quinta do Ega). Na noite de terça-feira, havia um humilde concerto na Praça da República onde tocava a banda Vaguense.
É digno de salientar que em maio decorrem também, em Aveiro, as festas em honra a Santa Joana, padroeira da cidade, da qual falarei mais em pormenor no próximo número, não ficando, no entanto, aqui esquecida. Farei ainda menção, no próximo número, a um livro, que comprei faz 23 anos, em Aveiro no centro comercial Glicínias e ao próprio autor, Monsenhor João Gonçalves Gaspar que teve a amabilidade de me autografar o exemplar. O livro, já na sua segunda edição, reza a história da padroeira Santa Joana que morreu em Aveiro em 1490.
A foto foi tirada na Quinta do Ega enquanto comíamos e bebíamos na tradicional sardinhada na tasca do Reinaldo dos Frangos.

João dos Santos Ferreira

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