DESPORTO

A prática desportiva, segurança, a saúde e o suporte básico de vida

Desporto

O senso comum associa a prática desportiva à saúde, à longevidade e ao bem-estar. Pratica-se desporto para ter saúde, para se viver mais tempo e ter melhor qualidade de vida. Mas será isto verdade?
Com a informação científica disponível, poderemos dizer que sim, que será verdade, mas só será parcialmente verdade: existem os acidentes desportivos, que podem conduzir a lesões graves e até à morte; existem situações de lesões orgânicas graves por mau doseamento das cargas de esforço, designadamente pelo uso de substâncias dopantes que levam à ultrapassagem dos limites fisiológicos; existem também práticas físicas inadequadas feitas sem controlo médico prévio (ou que escapam ao controlo médico) e existe, por fim, a morte súbita em desporto, com causas específicas e determinadas.
Coisas inesperadas, mas que acontecem e que nos deixam surpreendidos, porque nunca as julgaríamos possíveis. No entanto, as notícias trazem-nos com alguma frequência situações destas, seja por parte de atletas de alta competição, seja por atletas de baixa-média competição, seja por praticantes de lazer ou, até, por crianças e jovens, em aulas de Educação Física.
Muitos de nós assistiram em direto pela TV à morte do Miklós Fehér, há 20 anos, num jogo de Futebol Guimarães-Benfica e eu assisti pessoalmente, horrorizado, à morte do basquetebolista internacional Paulo Pinto, (que era médico) num jogo Aveiro Basket-Benfica, realizado em Aveiro, em março de 2002.
Vamos, então, tomar consciência desta importante questão e tentar teorizá-la, fornecendo elementos que permitam ter o controlo possível destas questões.
A primeira questão tem a ver com o exame médico dos praticantes: é obrigatório para praticantes federados, tem a validade de um ano, encontra-se regulamentado pelo Decreto-Lei nº. 169/2007 e tem um formulário publicado no DR nº. 238, de 13/12/2007, incidindo as dimensões biométrica, ectoscópica, oftalmológica, otorrino, estomatológica, génito-urinária, cardiovascular e respiratória. Todos os praticantes desportivos de lazer deverão ter também este cuidado prévio, seguindo o protocolo estabelecido para os praticantes de competição.
A segunda recomendação, prende-se com a segurança durante a prática, antecipando possíveis situações de risco e tomando medidas preventivas adequadas. Dada a enorme variedade de modalidades e de contextos de prática, torna-se impossível estabelecer um padrão comum, mas diremos que as modalidades náuticas (canoagem, surf, vela, remo) colocam problemas diferentes, relativamente ao ciclismo e esta modalidade, também colocará situações diferentes das da ginástica, ou dos desportos coletivos.
A terceira questão tem a ver com o doseamento das cargas de esforço, que deverá ser adequado ao praticante: nem superior à sua capacidade funcional, porque provoca a exaustão, nem inferior, porque não provoca efeitos ao nível da melhoria da capacidade funcional do praticante.
A quarta questão tem a ver com a morte súbita em desporto, por parte de praticantes de todas as idades e de todos os níveis de prática, incluindo os praticantes de alta competição, com elevados níveis de controlo médico. Entre jovens, a prevalência é de 1/300.000 (ou seja, muito reduzida) e as causas estão normalmente associadas a doenças cardíacas não detetadas no exame médico. Resta acrescentar que há um número incontável de artigos científicos sobre esta temática, bem revelador de preocupação e de interesse.
A quinta questão, tem a ver já com medidas corretivas: e se acontecer qualquer acidente? O que fazer? Como intervir? A primeira resposta é obvia: pedir auxílio, através da linha de emergência 112, ativando a emergência médica e o INEM. De facto, sabemos por experiência que o apoio médico no local é quase sempre inexistente quer nos treinos, quer nas centenas ou milhares de provas de competição, que se realizam no País todos os fins-de-semana, nas várias modalidades. Daí que seja muito importante que os agentes desportivos (treinadores, praticantes, dirigentes) saibam atuar adequadamente nos momentos imediatos ao acidente, antes da chegada de meios de socorro mais especializados.

A paragem cardiorrespiratória e a reanimação
A paragem cardiorrespiratória (PCR) é um acontecimento repentino, que consiste na interrupção ou falência súbita das funções cardíaca e respiratória, ficando a pessoa inconsciente e sendo as causas mais frequentes as doenças cardíacas e a insuficiência respiratória, outras podendo existir como o cheque hipovolémico, o AVC, afogamentos.
Um tempo de paragem de alguns minutos poderá provocar uma situação irreversível (ou seja, a morte) ou, em alternativa, sequelas irreversíveis provocadas pela falta de oxigenação cerebral. Daí, a necessidade de aplicação imediata do suporte básico de vida.
O Suporte básico de Vida
O suporte básico de vida (SBV) é um conjunto de procedimentos que têm como objetivo a recuperação da vítima de uma PCR, até à chamada de ajuda especializada, ou seja, pretende-se que as funções cardíaca e respiratória não sejam interrompidas, através de ações mecânicas de compressões cardíacas ritmadas e insuflações de ar, também ritmadas. Muitas das PCR conseguem ser revertidas através da aplicação do SBV, mas isso, obviamente, exige conhecimentos e domínio de técnicas.
A atividade do Agrupamento de Escolas de Vagos
Face a estes pressupostos (todos podemos ser vítimas e/ou todos podemos ajudar a salvar), entendeu o Agrupamento de Escolas proporcionar uma ação de formação sobre esta temática, dirigida a todos os alunos do 9º ano – cerca de 140. Tem uma periodicidade mensal, são dinamizadas pelos Bombeiros de Vagos (existe um protocolo AEV/AHBVV) e incide sobre Primeiros Socorros e Suporte Básico de Vida.
O Agrupamento de Escolas de Vagos pretendeu promover a literacia em saúde, na área do Suporte Básico de Vida, a capacitação dos alunos em Primeiros Socorros e a sua preparação na intervenção precoce na ajuda à vítima. Desta forma, pretendeu-se que todos os alunos do 9º ano tivessem formação mensal nestas áreas. Como se pensa que só uma estimulação frequente e regular, em relação a estes assuntos, poderá vir a trazer a resposta que se pretende e que poderá ser determinante, solicitou-se a colaboração dos Bombeiros, estando a implementar em conjunto um projeto, em que todas as turmas do 9º ano usufruem de sessões mensais de 1ºs Socorros e SBV. Este trabalho de formação tem sido realizado em articulação com as disciplinas de Educação Física, Ciências Naturais, CIDES e, também, nas horas de VAL.
Os Bombeiros, além das sessões que estão a dar às turmas, também estão a oferecer algumas sessões para os professores.

Paulo Branco

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