EDITORIAL

“Vale tudo” não é um só um programa da SIC

Editorial

Quatro jovens do movimento Fim Fóssil irromperam pela sessão de abertura das comemorações dos 50 anos da fundação do Partido Socialista e gritaram: “Celebrar o quê? Não há planeta B”. Ao mesmo tempo, três deles baixaram as calças. Nas nádegas, tinham escrito as letras que constituem a palavra “Ocupa!”.
O grupo foi, de imediato, retirado da sede nacional do PS. Mas o protesto inusitado dos manifestantes pela ação climática foi amplamente divulgado e chegou a todo o país. E foi de imediato cumprido aquilo que julgo ser o seu propósito: ser falado. Eu vi as notícias e a minha reação foi pensar logo que, afinal, “Vale tudo” não é só um programa televisivo da SIC.
Em vésperas de celebração de mais um aniversário, o 49º do 25 de Abril, os socialistas acabaram por reagir ao episódio com aparente normalidade e aproveitaram para lembrar que “a liberdade de expressão também se deve ao PS”. E sim, somos livres. Graças à Revolução dos Cravos de 1974, somos livres. Para mim, não é a liberdade que está aqui em causa. O que está em causa é a confusão mental de uma sociedade que baralha, cada vez mais, a noção do correto.
A luta pelo movimento Fóssil é válida e tem sido vindo a ser dada a conhecer nos últimos tempos. São inúmeras as ações de protesto que os responsáveis pela mesma têm levado a cabo. Mas se me debruçar sobre qual a pertinência de utilizar as celebrações do cinquentenário de um partido político democrático para essa luta, chego a poucas ou nenhumas conclusões. Não vejo ligação e não encontro relevância.
Acredito que o objetivo fosse, apenas e só, chegar a todo o país pelo inusitado da situação. E conseguiram-no com sucesso. Mas, numa sociedade que está a ficar profissional no campo da indignação generalizada, não estaremos a começar a confundir demasiadas águas?
Tudo isto não anula a mensagem que deve ser passada, sublinhada e voltada a sublinhar, sempre, todos os anos, todos os meses e não só neste: liberdade, sempre! 25 de Abril, sempre! Vagos também terá as habituais comemorações públicas. E se houvesse apenas uma data que pudéssemos escolher para comemorar alguma coisa, deveríamos sempre escolher esta, 25 de abril.
Salomé Filipe
Diretora do Jornal

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