EDITORIAL

Pontos finais ou vírgulas?

Editorial

O ponto final, enquanto sinal de pontuação, marca o final de uma frase e, muitas vezes, o início da seguinte. Metaforicamente, arrisco-me a dizer que é isso que muitos de nós fazemos, quando chegamos a esta altura do ano. O final de um ano civil é sempre a altura em que se decide deixar “o velho” (quase sempre equiparado a “mau”) para trás, abraçando o “novo” (que se espera sempre que seja bom) que está para chegar. Mas questiono: e se, em vez de pontos finais, colocássemos, apenas, vírgulas?
É certo que o final de alguma coisa – neste caso, de um ano – é sempre uma boa altura para balanços. Balanços esses aos quais se pode atribuir alguma utilidade, como ponto de equilíbrio do que está feito e do que falta fazer. Do que foi conquistado e do que falta conquistar. Do que foi vivido e do que falta viver. E reequilibrarmo-nos tende a ser positivo, em praticamente todos os campos da nossa vida.
Sou da opinião de que a época de Natal e de fim de ano funciona – ou deveria funcionar, na teoria, ainda que saibamos que nem sempre é possível – como uma pausa que nos faz ver o lado mais brilhante da vida. Mas termos consciência da finitude dessa pausa, só nos faz encarar o que vem a seguir com mais garra e empenho.
Não fica no “ano velho” tudo o que gostaríamos que ficasse. Não fica lá a guerra, o desemprego, as carências económicas, a fome ou a tristeza. As 12 badaladas, ainda que míticas, não têm poderes mágicos de ocultação. Carregamos connosco, para sempre, o bom e o mau de todos os anos que vivemos e sabemos que os levamos, invariavelmente, para o futuro. E isso não tem que ser mau.
Ao mesmo tempo, com o “ano novo” não virá tudo o que de melhor desejamos. Não é só porque entramos numa nova fase do calendário que todos os desejos se vão tornar realidade. Alguns – esperemos que muitos – podem tornar-se. Outros, é certo que não vão sair do plano dos sonhos. E está tudo bem com isso.
Se soubermos fazer as pausas – as tais vírgulas – nos sítios certos, acabamos por constatar que a frase vai ser mais fluída do que se ali encaixarmos um ponto final. Acredito que com a vida acontece o mesmo. Desejo a todos os leitores do Eco de Vagos, acima de tudo, um Natal em paz. E com tempo para respirar.

S.F.

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