EFEMÉRIDE

Orfeão de Vagos fez coro com a «Gleba da Arte»

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ENCONTRO DE BOAS VONTADES. Um feixe de vontades «apertado pelo esparto da solidariedade», segundo Frederico de Moura, que marcou presença na audição musical, na igreja de Vagos, que por essa altura ainda precisava «argamassa para os retoques finais, e a brocha macia do pintor para amenizar a cinza do cimento da fachada lateral».
Organizada pelo Orfeão de Vagos (que este mês comemora 54 anos de vida), a iniciativa aglutinou à sua volta a colaboração generosa do Coral Vera Cruz, Orfeão da Fábrica da Vista Alegre e, ainda, da Banda Amizade de Aveiro. A juntar-se ao coro grandioso, solistas de grande sensibilidade artística (para além de Francisco Oliveira, o tenor António Magalhães e os sopranos Edwiges Helena Fonseca e Juventina Lemos), que «não recearam perder os seus créditos ao deixarem-se diluir almofadados na colaboração coletiva», como adiantava o semanário Correio do Vouga.
Atuando separadamente, o Coral Vera Cruz, sob a regência de Morais Sarmento, interpretou dois trechos de Palestrina e Micholet, tendo o Orfeão da Vista Alegre executado “Caminhos do Mar” de Pierre Kaelin, e “Love Story” de Francis Lai. Quanto ao Orfeão de Vagos, apresentou “Those Evening Bells” e “Odi et amo”. Na 2ª parte atuou, a abrir, a Banda Amizade, dirigida por Duarte Gravato, que fez ouvir a abertura “Britânicos”, de Scassola); de seguida acompanhou, ainda, ambos os coros na seleção da ópera “Cavalleria Rusticana” e a marcha triunfal “Aida”, de Verdi.
Duas horas «perfumadas de emoção estética e, também, ricas de uma lição que já se encontrava incursa na parábola dos vimes», destacava Frederico de Moura, na sua fina prosa, sublinhando que «é nestes momentos, em que o dote positivo do homem vem à tona, que, realmente apetece viver; é nestas horas, em que se pode assistir a uma aglutinação aderente de vontades, que o ceticismo se esbate e o desencanto se refresca num oásis; é nestas circunstâncias raras, em que as pessoas se esquecem do que as separa que, verdadeiramente, se pode ter confiança no homem».
Quanto a Duarte Gravato, reconhecido «profissional honesto de reconhecidos méritos, incansável e portentoso», lia-se naquele semanário que o maestro vaguense continuava a «não desmerecer a confiança que os vastos auditórios nele depositam, num querer repassado de ensimesmadas vontades, que só uma acrisolada carolice e forte dose de amor à Arte conseguem manter».
Unidos no mesmo anseio de beleza, em nome da chamada «gleba da Arte», o sarau, cuja receita reverteu em favor das obras da igreja, fazia parte das festividades do Espírito Santo e Nossa Senhora de Vagos em 1978. A ele assistiram, entre outros, o governador civil, Costa e Melo, a presidente da câmara, Alda Santos Víctor, o bispo auxiliar, D. António Santos, o ex-bastonário da Ordem dos Avogados, Almeida Ribeiro, o antigo conservador do Registo Civil e Predial de Vagos, Joaquim Rodrigues Borges (que veio expressamente de Sintra, onde se encontrava colocado), e ainda o diretor da Fábrica Vista Alegre, Alberto Faria Frasco.

Eduardo Jaques

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