DESPORTO

Sobre o Campeonato do Mundo de Futebol

Entre 20 de novembro e 18 de dezembro decorreu no Qatar a 22ª edição do Campeonato do Mundo de Futebol, a segunda maior competição desportiva internacional, logo atrás dos Jogos Olímpicos (JO). Realiza-se de 4 em 4 anos, intercalada com os JO e mobiliza a atenção mediática, à escala mundial, enquanto decorre e imediatamente antes e depois de terminar.
Um pouco de história
A 1ª edição decorreu em 1930, no Uruguai, pelo facto de ter vencido competições precursoras e teve inúmeras dificuldades de organização, designadamente nos transportes de barco entre continentes. Saiu vencedor o Uruguai, país organizador, então uma grande potência futebolística.
A partir daí, as edições têm-se sucedido com a regularidade prevista (4 anos), com exceção das edições de 1942 e 1946, que se não realizaram devido à 2ª Guerra Mundial.
A FIFA (Federação Internacional de Futebol Association) fundada em 1904 e com sede na Suíça, tem sido sempre a entidade organizadora, deliberando com antecedência (mínimo de 8 a 10 anos) sobre o país (ou os países) organizador(es).
Também o número de países intervenientes tem vindo a aumentar regularmente, quer na fase prévia das eliminatórias, quer na fase final. Inicialmente 13, passaram a 16, até se fixarem nos atuais 32 e que, em 2026, (no Campeonato a ser organizado pelos EUA, Canadá e México), passarão a ser 42, devido ao novo formato da prova, que já foi aprovado pela FIFA.
A fase prévia de eliminatórias funciona como um filtro para apurar as seleções de cada continente; a fase final decorre sempre com uma fase de grupos, em que se apuram os 2 primeiros, para uma segunda fase a eliminar diretamente, num único jogo
Participaram na presente edição 209 seleções nacionais dos 5 continentes, das quais se apuraram 32 para a fase final, distribuídas por quotas: 15 para a Europa, 5 para a América do Sul, 5 para África, 3 para a América do Norte e Centro e 4 para a Ásia. Trata-se de uma distribuição que, formalmente, tem em consideração o desenvolvimento e a implantação da modalidade mas que, na prática, sofre também de fortes influências políticas e de condicionamentos de natureza económica e financeira, tendo em conta o “peso” das regiões em confronto.

A 22ª edição, no Qatar
A escolha, pela Comissão Executiva da FIFA, deste país organizador, ocorreu em dezembro de 2010, ficando sempre a suspeição de compra de votos, ou seja, de votações nesta candidatura, a troco de contrapartidas pessoais para os dirigentes eleitores.
Logo de início alinharam-se vários motivos contra estra candidatura: a sua localização no médio oriente, num pequeno país de 3 milhões de habitantes sem tradição no Futebol, nem estádios capazes; as elevadas temperaturas de verão, que obrigaram a transferir a prova para o inverno, alterando os calendários habituais e, sobretudo, a sistemática violação dos direitos humanos, uma vez que praticamente todos os países da região são ditaduras e estão submetidas à lei islâmica, onde a “sharia” está inscrita na própria Constituição. A favor, alinhavam-se argumentos ligados ao desenvolvimento da modalidade, a rotação entre continentes e as elevadas verbas e garantias colocadas à disposição, pelo Governo do Qatar.
Os factos comprovam que o Qatar teve a capacidade e os meios para construir 8 estádios (estimados em 230 mil milhões de dólares) e restantes infraestruturas e em que morreram na sua construção o absurdo número de 6500 trabalhadores emigrantes, em acidentes de trabalho. A sharia foi “parcialmente suspensa” durante a prova e o país revelou capacidade organizativa muito aceitável. No entanto, o mundo ocidental, com maioria na Comissão Executiva da FIFA não pode pactuar com situações de gravíssimas violações de direitos humanos, como as que se continuam a verificar no Qatar – têm de existir limites mínimos na ética social e desportiva e esses limites deverão ser sempre respeitados.
Desportivamente, a prova decorreu como as anteriores: grande supremacia das seleções da Europa e América do Sul; ligeira subida de nível das restantes, com a exceção da seleção do Qatar, notoriamente a de menor qualidade; um predomínio de estratégias defensivas, que claramente diminuíram o Futebol como espetáculo (existiram apenas meia dúzia de jogos com emoção, muitos golos e incerteza no resultado), tornando-o monótono e aborrecido; não existirem casos graves de indisciplina e de anti desportivismo, até porque a FIFA tem “mão pesada”.
A cobertura mediática
Tratou-se de um evento com uma cobertura mediática à escala mundial, mobilizando a opinião pública e os órgãos de informação durante o mês em que decorre a prova e trazendo para segundo plano os grandes problemas que afetam verdadeiramente, as sociedades. Na presente edição, a Guerra da Ucrânia (com o drama humanitário a agravar-se permanentemente, com o perigo do seu alastramento e com a ameaça nuclear) e a crise económica e social existente (com uma inflação descontrolada e a limitar generalizadamente o poder de compra), passaram para segundo plano, “abafados” pelo tema do momento: o Campeonato do Mundo de Futebol. Em Portugal, os espaços noticiosos das televisões e da imprensa são demonstrativos deste facto, assumindo mesmo um caráter altamente alienante.
Com efeito, há temas e assuntos muito mais importantes e que afetam e condicionam o dia a dia das sociedades e o Futebol não pode funcionar como um anestésico social, montado por um autêntico circo mediático à escala global.
A participação portuguesa
Portugal possui, inegavelmente, das melhores escolas de formação de futebolistas a nível mundial e a consequência é a de ter jogadores profissionais nos melhores clubes europeus – são estes os atuais titulares da seleção nacional. Temos, portanto, um conjunto de futebolistas que estão entre os melhores – há quem os designe por “geração de ouro” e, em consequência, Portugal estará sempre entre as melhores seleções participantes.
Tradicionalmente, criam-se grandes expectativas e os influencers procuram convencer-nos que “desta vez é que vai ser…”; na prática, existem sempre grandes deceções, pelo facto da fasquia ser colocada a um nível muito elevado.
Desta vez, a história repetiu-se: provou-se mais uma vez que grandes jogadores, por si só, não fazem uma grande equipa e nos 5 jogos realizados pela seleção nacional, 4 foram cinzentos e sem brilho e apenas um deles esteve à altura de um candidato a campeão do mundo.
No final, saiu-se sem honra nem glória e, como habitualmente, a deceção foi geral, mas sirva de consolação: há mais mundo para além do Futebol profissional…
Será para a próxima, para 2026… desta vez não vai falhar…

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