EFEMÉRIDE

Vaguense “viveu” na América o 11 de setembro

EFEMÉRIDE

ESTEVE VINTE ANOS para ir à América. Chegou lá na véspera do 11 de setembro, em 2001. E tão cedo não vai esquecer as emoções que sentiu: a dor e o sofrimento de quem perdeu alguém, as lágrimas que não chorou. Ainda hoje recorda a tragédia que abalou o Mundo.
À conversa com Jorge Loff e outros vaguenses, para saber novidades da «santa terrinha» e, quando se dão conta, são duas da manhã no Clube Português de Elisabeth. Era terça-feira e a América não dormia. Não muito longe dali, só o World Trade Center repousava da sua azáfama diária. Para quem tinha de levantar-se às quatro da manhã, era de facto muito tarde. João Carlos Loureiro iria faltar ao compromisso, que tinha assumido com o primo americano, «manager» de uma empresa de serviços, de acompanhar o pessoal ao centro nevrálgico de Nova Iorque., para mais um dia de trabalho.
Estava decidido a visitar as famosas torres. Igual às centenas de turistas que por ali andavam, havia de meter-se na «bicha» para adquirir o bilhete de ingresso. Para ter, mais tarde, que contar à família e aos amigos que em Soza esperavam pelo seu regresso.
Afinal faltou a terá sido a sua sorte, quando veio a saber, pouco depois do primeiro embate do avião da American Airlines numa das torres, o que na realidade estava a acontecer. As notícias repetem-se, a televisão mostra em direto, os telefones não param de tocar, com os familiares preocupados e sem contacto. E as pessoas na rua, incrédulas e atordoadas pelo choque, nem querem acreditar no que vêm.
De Elisabeth a Newark, conhecido santuário da comunidade lusa, é um pulo. É dali, da outra banda do rio, que a população vai assistindo, impotente, à verdadeira dimensão da tragédia. O desabamento de um dos símbolos da América, era, de resto, visível do local onde também se encontrava João Carlos Loureiro. Com compromissos inadiáveis em Toronto, daí a dias (casamento de uma sobrinha), as coisas complicavam-se. Sem aviões e com a fronteira terrestre fechada, o comboio seria, como acabaria por suceder, o único meio de transporte para sair daquele inferno.
Só passados três dias, numa sexta-feira, obteve autorização para se deslocar à zona do impacto. Acompanhado pelo primo, e munido de «crachá», como se fosse funcionário da empresa de serviços de limpeza e lavagem de vidros, João Carlos seria revistado para entrar na zona sinistrada, onde também só tinham acesso bombeiros e polícia. O que viu era indiscritível, «difícil de esquecer para o resto da vida», como confessaria mais tarde – a derrocada das Twin Towers tinha transformado a baixa de Manhattan num imenso amontoado de escombros. onde a dor permanecia dos corpos por resgatar; gigantescos edifícios de escritórios esventrados, e o cheiro terrível a nauseabundo de corpos e ferros calcinados pelo calor, «enclausurados» num raio de vários quilómetros.
Sobrava o sentimento de raiva a revolta, misto de desolação e tristeza estampada no rosto de cada trabalhador, numa América orgulhosa, mas claramente fragilizada e impotente. Para agir e perceber o novo rumo da História, consubstanciado naquele ato terrorista.

Eduardo Jaques

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