EFEMÉRIDE

Quando Carlos Lopes foi campeão a passo… de vitelo

EFEMÉRIDE
RECORDISTA CANSADO. Faz 39 anos em agosto que Carlos Lopes venceu a prova de maratona dos Jogos de 1984, tornando-se o primeiro atleta português a ser medalhado, com ouro, nos Jogos Olímpicos. E terá sido, nessa qualidade, que marcou presença em Vagos, um ano depois (maio de 1985), na confraternização do VII Dia do Agricultor.
Os tempos ainda eram de abastança, embora a produção leiteira tivesse registado acentuada quebra, menos 1,7 milhões de litros, no concelho. Aliás, por força do aumento das taxas de juro, e da subida generalizada dos materiais e equipamentos das salas de ordenha, tinham sido onerados os encargos daquela organização. Ou seja, em 1984 apresentava resultados positivos de “apenas” 4.334 contos, contra os 17.313 registados no ano anterior. «Os tempos que se avizinham não vão ser fáceis, e a lavoura em Vagos pode vir a sofrer um duro golpe com a entrada, em breve, na CEE», tinha avisado o técnico da cooperativa, João Domingos Paula.
Mas voltemos a Carlos Lopes. O campeão olímpico era amigo de João Pandeirada, presidente da direção da Cooperativa. Daí ter aceite o convite (trouxe a mulher Teresa e um dos filhos, Pedro), para se juntar ao “povo” de Vagos. E seria em festa que o atleta foi recebido, no estádio municipal, onde dezenas de populares, na sua maioria jovens, lhe pediram autógrafos e o pegavam ao colo, em delírio. A certa altura já não podia mais, estava mesmo esgotado. Prontamente recolhido pela ambulância dos Bombeiros, foi levado para sítio seguro, onde repousou. «Uff, cansei-me mais hoje aqui a dar autógrafos, do que quando ganhei a maratona olímpica em Los Angeles» – desabafava, satisfeito.
No meio da festa, o inesperado viria a acontecer. Na hora da despedida, Carlos Lopes seria chamado ao palco, onde havia vários ranchos folclóricos… e um vitelo! Fazendo as honras da casa, o presidente da Cooperativa entregou a soga e o vitelo ao atleta. E explicou, com a simplicidade que lhe era peculiar, as razões da referida oferta: «em terra de gente do campo, em terra que é familiar aos animais, não seria descabido a oferta, pois também Carlos Lopes saiu de gente humilde, do povo, e conseguiu guindar-se ao mais alto pódio do atletismo mundial».
Agradecido e sensibilizado com o gesto, Carlos Lopes ficou com um problema. «E agora, o que vou fazer com o vitelo?», questionou. Alguém alvitrou que o bicho fosse leiloado, entre os presentes, e o dinheiro entregue de imediato ao campeão. Porém, a esposa opôs-se firmemente, tendo mostrado desejo de conservar o vitelo, com o argumento de que o filho «nunca vai esquecer esta dádiva».
E não é que o vitelo do campeão, com direito a estábulo, foi mesmo parar a Lisboa? Enquanto tal não aconteceu, o animal acabaria por ser carinhosamente tratado, por Luís Real, reputado agricultor do Lombomeão.

Eduardo Jaques

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