Estamos à espera de mais mortes no mar?

Afonso. Tinha 14 anos, era de Fonte de Angeão e perdeu a vida no mar, na praia da Vagueira. Todos os dias de verão que teria pela frente terminaram ali, naquela tarde do passado mês de junho, quando entrou na água com um amigo, numa zona não vigiada, na praia da Vagueira. Foi arrastado, ao que tudo indica, por um agueiro. E só viria a ser encontrado, sem vida, mais de três horas depois. Dia 19 de julho, praia da Costa Nova. Um jovem, de 28 anos, entrou na água numa zona sem vigilância. A mãe, no areal, apercebeu-se que o filho estava desaparecido da vista. Foi resgatado, pouco depois, em paragem cardiorrespiratória. Não resistiu. A causa: apanhado por um agueiro, informou a seguir a Polícia Marítima. O verão ainda não vai a meio e em duas praias da região de Aveiro já houve duas mortes por afogamento, cuja origem terá estado num agueiro.

A palavra repete-se até à exaustão, quando uma notícia trágica dessas é dada nos jornais. Agueiro. “Há muitos agueiros nas nossas praias”, ouve-se dizer no café. “Ah, os miúdos não conhecem o mar e depois estas coisas acontecem”, opinam as vozes que tudo sabem. Mas, afinal, mesmo nós que somos desta terra à beira-mar plantada, sabemos todos o que é um agueiro? Sabemos identificá-lo? Sabemos o que fazer caso sejamos “apanhados” por um? Eu, pensando a sério no assunto, não tenho certeza a 100% se sei.

Questiono-me várias vezes onde é que, neste campo, entra a prevenção. No ano passado, a Associação de Surf de Aveiro, com o patrocínio do Município de Ílhavo, produziu um vídeo (um bom vídeo) onde Humberto Silva Rocha, comandante da Capitania do Porto de Aveiro, explica o que é um agueiro, como o identificar, os perigos que esconde e o que fazer caso se seja arrastado para um. Na altura, as imagens foram amplamente partilhadas nas redes sociais. Mas não acredito que tenham chegado às suficientes. Porque prevenir nunca é suficiente e o público alvo é vasto e diverso, impossibilitando ainda mais a tarefa de chegar a todos.

Quando é que os municípios que têm no seu território praias onde os agueiros são comuns começam a apostar na prevenção? E as escolas inseridas nessas mesmas áreas geográficas? Estão à espera de quê? Parece-me absurdo, dada a ligação que nesta região temos com o mar, que as crianças não sejam ensinadas, desde pequeninas, para os perigos existentes nas nossas águas. Águas essas em que molham os pés, muitas vezes, logo desde tenra idade, em visitas à praia proporcionadas pelos ATL das escolas.

E os turistas? Nos nossos areais, é inexistente qualquer sinalização que os informe sobre como agir com prudência na água. Os agueiros existem desde sempre. Estão ali, a causar tragédias, todos os anos. Estamos à espera de quê, para prevenir? Estamos à espera de mais mortes no mar?

Salomé Filipe

Diretora do Jornal

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