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Quando é pior a emenda que o soneto

Editorial

O projeto de investigação “Scroll, logo existo”, publicado pela Universidade Lusíada e divulgado, este mês, pelo Jornal de Notícias, diz que mais de metade dos jovens com menos de 24 anos está a utilizar a Internet e as redes sociais como forma de escape, muitas das vezes para aliviar o seu estado psicológico. E nesse estado incluem-se sentimentos de culpa, ansiedade, frustração, impotência, tristeza e depressão. Mas estará a Internet a ajudá-los, efetivamente? É que o estudo, por outro lado, garante também que já há portugueses que apresentam algum grau de dependência digital – que, por seu turno, causa irritabilidade, insónias, depressão e ansiedade.
Este é um daqueles casos em que me arrisco a dizer que “é pior a emenda do que o soneto”. O refúgio em algo nocivo, como forma de camuflar um estado de espírito alterado, torna-se um problema a dobrar. E é nessa sociedade que caminhamos, todos, novos e velhos, sem indicadores que nos digam que o cenário pode ser risonho no futuro.
A saúde mental aflige-me. E devia afligir-nos a todos, enquanto cidadãos e, acima de tudo, enquanto seres humanos inseridos numa sociedade que se quer sã. No entanto, apesar de ser uma área cuja visibilidade tem vindo a aumentar, nos últimos anos, parece-me que estamos longe – muito longe, arrisco-me a dizer – de falar nela o suficiente.
Nos dias que correm, não há como fugir à Internet. Quer dizer, há, mas a verdade é que é uma fuga impraticável, na maioria dos casos. No entanto, tem que haver formas de a usar, primordialmente, para o bem. É que a Internet tornou-se quase um bem essencial. Utilizamo-la para trabalhar, para pagar contas, para aceder a uma infinitude de serviços. E torna-se particularmente útil, também, para lazer e para a criação de laços entre as pessoas. Mas a Internet pode ser – e é – tóxica.
Percorrer as redes sociais durante horas e horas, deslizando o dedo pelo ecrã – o chamado “scroll” –, ajuda a passar o tempo e, aparentemente, a distrair a mente, ao mesmo tempo que garante uma falsa sensação de companhia. Sem contar, em alguns casos, com o surgimento inevitável de comparação com as vidas que ali desfilam, aos nossos olhos. Mas a vida de cada um de nós, a companhia mais saudável e real, está ao nosso lado ou fora de portas. E, à partida, mesmo quem está mais sozinho ou isolado, beneficiará se conseguir conviver com pessoas reais, “de carne e osso”.
Continua a ser urgente olhar para o lado e detetar a solidão, a depressão ou a ansiedade de quem nos rodeia. Continua a ser urgente pensarmos todos em estratégias de combater estados de espíritos desanimadores ou depressivos. Urge, ainda, que as instituições, associações, câmaras municipais ou juntas de freguesia mantenham nas suas agendas a criação de atividades que potenciem o bem-estar. Quando falamos de jovens, como é o caso do estudo citado, a urgência eleva-se.

Mais de metade dos jovens com menos de 24 anos usa a Internet e as redes sociais como forma de “escape” ou para aliviar o seu estado psicológico, o que inclui sentimentos de culpa, ansiedade, frustração, impotência, tristeza e depressão.

Salomé Filipe
Diretora do Jornal

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