DESPORTO

Mário Pandeirada – in memoriam

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No dia 11 de julho, faleceu o Mário Pandeirada. Embora soubesse, desde há alguns anos, que padecia de uma grave doença oncológica (contra a qual lutou sem desfalecimentos, não fosse ele um lutador), a notícia da sua morte comoveu-me profundamente.
Os contactos que com ele mantive ao longo dos últimos 15 anos fizeram com que tivesse uma enorme consideração e admiração (e também amizade), que sei que ele, também, me retribuía. Com efeito, sendo eu o Coordenador do Desporto Escolar (DE) do Agrupamento de Escolas de Vagos (AEV) e estabelecendo contactos com os clubes locais, para articular a intervenção de alunos/atletas comuns ao AEV, tinha no Mário o interlocutor, como representante do Clube de Natação de Vagos (CNV).
E foram esses contactos, ao longo de muitos anos, que me levaram a reconhecer a sua elevada qualidade como pessoa e como profissional: competente, dedicado, eficiente, leal e frontal (dizia sempre o que tinha a dizer), exigente (consigo e com os outros) e um lutador por objetivos e por causas.
Foi assim que sempre o conheci e sempre nos demos bem, talvez por termos algumas características comuns, ou melhor, por termos “feitios” parecidos em alguns aspetos. Ambos intransigentes nos princípios, obsessivos e perfecionistas naquilo e por aquilo que considerávamos importante, acessíveis no trato, mas com explosões de “mau feitio” quando as coisas não corriam bem.
A meu pedido, fez a história do CNV, que foi publicada na edição de junho de 2022 deste jornal e que incluí na coletânea de textos que, em junho de 1023, publiquei em livro com o título “Um olhar sobre o desporto” e de que lhe ofereci um exemplar, com uma dedicatória.
Agora, 3 anos depois, transcrevo o um pequeno trecho do que foi escrito por ele: “O Desporto Escolar, em Vagos tem sido, desde os primeiros passos do CNV, um aliado e uma estrutura de apoio à nossa atividade, tanto a nível do treino, como também na estrutura competitiva. A boa relação existente tem permitido realizar um trabalho conjunto, de mútua colaboração, e que tem dado, ao longo dos anos, bons resultados na modalidade, para o AEV. Todos os anos, os alunos do AEV que são atletas do CNV participam nas competições do DE, representando o AEV e sempre com ótimos resultados (…) e isto não num ano excecional, mas ao longo de muitos anos”. (págs. 79/80 do livro referido).
Era, de facto, um excelente profissional: Licenciado em Educação Física, Treinador de Natação de nível 3, Professor e Técnico Superior da Câmara Municipal de Vagos, foi fundador do CNV, que colocou num patamar muito elevado, no contexto da Natação nacional.
Para concluir, conto uma pequena história acontecida pouco tempo antes de se manifestar a sua doença (talvez em 2020): telefonou-me a pedir que falasse com o meu colega, professor X (omito o seu nome), para que não corrigisse o aluno Y (seu atleta no clube, de que também omito o nome), relativamente ao ângulo de entrada na água do braço, no estilo crawl. Disse-me: “eu tenho razão, se quiser mostro os tratados de Biomecânica atuais, aquilo que o seu colega refere, está desatualizado”. Não quis ver os tratados de Biomecânica, mas dei-lhe inteira razão e disse que falaria sobre o assunto com o meu colega. Mesmo assim, ele finalizou: “se ele continuar a intervir e a corrigir mal, tiro os meus atletas do DE” (coisa que nunca fez).
Ele era assim mesmo, combativo e frontal e a sua morte prematura foi uma grande perda para todos nós.
Partiu para a eternidade, mas onde quer que agora esteja, penso que gostará desta pequena homenagem que lhe presto, porque sabe que é feita com total sinceridade.
Até sempre, meu Amigo.
Paulo Branco

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