DESPORTO

Os Conceições, Pinto da Costa, as eleições no FC Porto e o futuro…

Temos vindo, desde há 3 anos, a analisar alguns grandes temas do desporto, mas sempre numa dimensão global, centrando-nos nos princípios e nos valores e evitando referências a atores e a personagens. No entanto, essa abordagem tem limites e, como refere Simone de Beauvoir, muitas vezes “o estudo de um caso particular é mais esclarecedor do que respostas abstratas e globais” e, por isso mesmo, iremos agora refletir sobre o FC do Porto, ultimamente em evidência por diversos acontecimentos – desde agressividade e incitações à violência, perda de competitividade da equipa de futebol, desculpas por maus resultados com vitimização e críticas a arbitragens, operações policiais junto de GOA (grupo organizados de adeptos – Super-Dragões ), a situação financeira, num estado de falência técnica, as eleições internas e a inevitável campanha eleitoral e, por fim, o mais que se irá seguir e que ainda se desconhece, com o pedido de auditorias internas que irão ter lugar nos próximos meses.
Como se vê, a ementa é rica e variada e tem proporcionado grandes espaços na comunicação social, televisões e imprensa e muitas horas de debate e de especulação no meio desportivo.
Os factos
Entre 1982 e 2024, o senhor Jorge Pinto da Costa ocupou o lugar de presidente da Direção do Clube e, através de uma estratégia de afrontamento da capital e do poder centralizado de Lisboa, conseguiu colocar o clube, inequivocamente, num patamar cimeiro do desporto nacional e, também, no plano europeu. Seguindo o princípio de Nicolau Maquiavel de que os fins justificam os meios, ou seja, se os fins forem importantes, qualquer meio serve para o atingir (independentemente, ou não, da sua licitude), obteve seguro sucesso, sobretudo nos primeiros trinta anos dos seus mandatos, onde o controlo do Estado sobre o movimento desportivo era muito reduzido e deficiente.
Ao terminar o seu 15º mandato, deixa um clube com muitos títulos obtidos em diversas modalidades, mas com uma situação financeira próxima da falência técnica com capitais próprios negativos, graves dificuldades de tesouraria, com diversas multas da UEFA, por incumprimentos contratuais, violando o protocolo de fair play desportivo e, inevitavelmente, perda de competitividade da equipa principal, com resultados desportivos muito inferiores aos obtidos em anos anteriores.
As reações
As reações a este desastre desportivo-financeiro ainda agravaram mais as situações, conduzindo a autênticas guerras abertas em várias frentes, desculpabilizando os verdadeiros responsáveis e encontrando outros – os árbitros, os adversários, o governo, a Liga de Clubes e a Federação e muitos outros, num autêntico complô destrutivo do clube.
Nesta espiral de violência verbal, destacaram-se especialmente os Conceições (pai e filho), o dirigente do Futebol Luís Gonçalves e o próprio Pinto da Costa; no campo da violência física e da coação destacaram-se os Super-Dragões – grupo organizado de adeptos – cujos dirigentes se encontram a aguardar julgamento em diversos processos judiciais relacionados com a sua intervenção (em diversos momentos, mas sobretudo na Assembleia Geral de Novembro último).
Tudo isto generalizou-se e determinou uma autêntica situação de guerra aberta no movimento desportivo, dando uma triste imagem do desporto profissional português, numa situação praticamente sem paralelo na Europa.
O futuro: um novo paradigma?
Com o processo eleitoral para um novo mandato, as eleições de 27 de abril determinaram um novo rumo, com o fecho de um ciclo e, espera-se, o início doutro, subordinado a um novo paradigma, respeitador, no essencial, de princípios básicos da ética social e desportiva e dos princípios de funcionamento de um Estado democrático. Espera-se, também, um novo modelo de gestão assente no rigor, na transparência e na competência, sendo reveladora uma frase do então candidato A. Vilas-Boas, durante a campanha eleitoral:” o senhor Pinto da Costa está um bocadinho desatualizado”.
De facto, o desporto nacional necessita de clubes fortes, credibilizados, competitivos e bem geridos (técnica, financeira e desportivamente), porque a imagem de um país necessita destas formas de afirmação, como símbolos de modernidade e de eficiência, traduzida em resultados desportivos em várias modalidades, mas sabendo-se ser o Futebol a principal e a de maior importância (na audiência e nas verbas movimentadas).
Com o afastamento de Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira e Bruno de Carvalho da presidência dos 3 principais clubes desportivos nacionais, abriu-se a entrada a Vilas-Boas, Rui Costa e Frederico Varandas, todos eles de outra geração, entre os 40 e os 50 anos e com outra capacidade, outra formação e outra visão.
Deles se espera um novo rumo para o desporto nacional: embora no desporto prevaleça a emoção e o desejo de ganhar, há mais mundo para além dos resultados.

Paulo Branco

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