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Voto “sim” à democracia e à liberdade

Editorial

Fomos chamados a ir às urnas a 10 de março. Ainda que, à partida, já toda a gente saiba, é sempre importante partir daqui e começar pelo apelo que ainda precisa de ser repetido até à exaustão: é imperativo irmos votar. À esquerda, à direita, ao centro ou em branco. Ir é sempre a premissa, qualquer que seja a intenção de voto.
Um destes dias, uma amiga minha dizia-me que uma amiga sua lhe havia confessado que, com 30 anos, nunca tinha ido votar. Nunca. Ainda que a amizade pela pessoa em apreço não lhe permitisse condenar a confissão, a minha amiga mostrava-se estupefacta – como não podia deixar de ser. Contava-me ela que a pessoa em causa se havia justificado, de forma atrapalhada – e algo envergonhada –, que talvez nunca tivesse sentido necessidade de ir votar por ter tido sempre uma vida privilegiada. E é daqui, desta ideia, que gostava de partir. Não devemos ir votar só porque estamos descontentes. Devemos ir votar, sempre, independentemente da situação económica e social de cada um, porque é um dever e um garante da manutenção da democracia em que vivemos. E isso devia bastar. É por isso que eu voto: voto como um “sim” à democracia e à liberdade.
Não deixa de ser curioso que estejamos a ser chamados a eleger o próximo primeiro-ministro de Portugal, antecipadamente – depois da demissão inesperada de António Costa, a meio da legislatura –, cerca de um mês e meio antes de se celebrarem os 50 anos do 25 de abril. Mas, acima de tudo, preocupa-me que meio século depois da Revolução dos Cravos estejamos a assistir a um crescimento desmesurado de políticas extremistas, que é impossível não nos avivarem na memória tudo o que foi o nosso país, antes de abril de 1974. Ainda que esse aumento não seja um fenómeno exclusivamente português, custa-me que nós, herdeiros de um Estado Novo que estagnou o país durante décadas – e cujas repercussões se sentem até aos dias de hoje – tenhamos uma memória tão curta.
Mais do que nunca, é essencial, no momento do sufrágio, votar com o sentido de garantir a democracia e a liberdade. Não embarcar em populismos que só servem para enganar os mais frágeis e vulneráveis. Ter sentido crítico. Conhecer as propostas daqueles em quem vamos votar e, mais do que isso, avaliar se as mesmas fazem sentido e se são exequíveis. Falta isso, arrisco-me a dizer. E lamento que os debates televisivos entre os líderes dos principais partidos não tenham contribuído o suficiente para o esclarecimento dos eleitores. Eu incluída.
Porque, depois, o resultado desses debates, em que muitas vezes o nível desce vergonhosamente, não serve a ninguém. Uns, como a “amiga da minha amiga”, assobiam para o lado, porque até acham que não vale a pena perderem tempo a chatearem-se, se a vida até está confortável. Outros, que querem efetivamente saber mais, vão ter que ir à procura das propostas de cada programa eleitoral. E quem está descontente, muitas vezes desacreditado no país e na política, agarra-se ao que não se deve agarrar: à proposta fácil e simplista daquele que no debate gritou mais alto, para se fazer ouvir, ou do que chamou mais nomes ao outro, para ser protagonista das parangonas dos jornais.

Salomé Filipe
Diretora do Jornal

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