EDITORIAL

Não, não aconteceu nenhuma tragédia na Vagueira

Editorial
O título deste editorial serve para descansar aqueles que ainda possam ter algumas dúvidas, depois de terem assistido, na terça-feira, dia 21, ao “aparato” que se viveu na praia da Vagueira. Não, não aconteceu nenhuma tragédia para tantos meios de socorro estarem destacados para o local. Tudo não passou de um simulacro. Através do exercício militar Fénix, do Comando das Forças Terrestres do Exército, simulou-se que tinha havido um sismo seguido de tsunami e que o cenário era, obviamente, de destruição. Isto para que um dia – que se espera que nunca chegue –, tudo esteja a postos em caso de uma catástrofe.
Fez-se de conta que a intensidade do tsunami destruiu a ponte da Vagueira. Fez-se de conta que houve edifícios colapsados, que as comunicações ficaram interrompidas, que muitas estradas estavam bloqueadas e que, em determinado ponto do território, o mar e a ria se haviam juntado, num cenário de destruição que só se consegue imaginar através dos filmes – e de notícias que nos chegam de outros pontos do mundo. E, depois, claro, contou-se com um cenário com inúmeras perdas humanas. Um cenário em que um tsunami causa mortes e em que umas vítimas são arrastadas pela força da água e outras desaparecem debaixo dos escombros.
Tudo isto, segundo o Exército, teve como objetivo treinar as capacidades de resposta das diferentes valências no sistema integrado de Apoio Militar de Emergência. E intervieram no exercício a Câmara de Vagos, a Autoridade Nacional de Proteção Civil, os Bombeiros de Vagos, a GNR, o Agrupamento de Escolas de Vagos, a Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural e o Colégio de Calvão, numa clara parceria entre as forças do Exército e a sociedade civil.
Para muitos dos que se depararam com o “aparato”, foi uma oportunidade de verem os meios de socorro em ação, nomeadamente os militares, que nem sempre estão próximos da população. Mas serviu, de igual modo, para que se pense numa realidade que julgamos inexistente – de forma inocente, ou não vivêssemos nós junto à linha de costa, num país banhado pelo mar. E eu até dou por mim a pensar: muito bem, acho de vital importância que as autoridades treinem nestes cenários simulados, mas e a população? A população sabe o que deverá fazer em caso de sismo ou de eventual tsunami?
Não falo só em Vagos, falo mesmo a nível nacional. Não sei até que ponto estamos todos preparados para uma tragédia de tais dimensões. E não sei até que ponto não se devia investir mais na sensibilização, tanto através das escolas como dos próprios municípios costeiros. Porque se, por um lado, espero que uma catástrofe nunca nos assole, por outro, gostava que, se chegasse, estivéssemos todos preparados para saber o que fazer. Eu sou a primeira a assumir: não estou.
Salomé Filipe
Diretora do Jornal

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