Opinião

São poucas as personagens do século XX portuguesas que tenham sido tão mitificadas como Francisco Sá Carneiro. O seu percurso de vida permitirá tal mitificação: membro da Ala Liberal, depois do 25 de Abril aproximou-se do centro-direita. Foi um lutador no Período Revolucionário, em curso, junto das forças militares moderadas pela instauração de um regime democrático e pró-ocidental. Fundador e líder do Partido Popular Democrata (PPD), que passou a chamar-se Partido Social Democrata (PSD), em 1976, Sá Carneiro teve uma carreira política envolta em polémicas. Em 1979, chegou ao poder numa coligação com o Centro Democrata Social (CDS). A minha melhor referência sobre Sá Carneiro foi a sua definição estratégica como político: “Primeiro, Portugal; depois, o partido; por fim, a circunstância pessoal de cada um de nós”. Cabe-nos, hoje, reflexionar sobre este pensamento e observar se os atuais políticos, a nível nacional ou regional, ouviram ou leram alguma vez Sá Carneiro, embora muitos falem dele como se o tivessem conhecido como ativo político.
Em meu entender, viver em democracia, significa que cada um de nós tem direito à sua livre opinião. Viver num Estado de direito democrático significa que todos nós temos os mesmos direitos e deveres e que ninguém está acima da lei. Ser político significa honrar o compromisso eleitoral assumido com a população e, acima de tudo, defender as instituições democráticas, o erário e os superiores interesses da população pela qual foram eleitos.
E esta defesa intransigente tem de ser superior a qualquer interesse pessoal. É isto que cabe a cada um dos eleitos nos órgãos políticos realizar, sejam membros de órgãos executivos ou deliberativos. Defender a sua terra, acima de qualquer interesse. Como ponto de partida, todo o cidadão tem o Direito à Informação e Acesso aos Documentos Administrativos nos órgãos deliberativos das autarquias locais. Se este direito não está disponível, significa que está a ser negado e viola-se a Constituição da República Portuguesa (CRP) em matéria de direito à informação, concentrando-nos preferencialmente nos seus reflexos nos órgãos deliberativos da administração autárquica.
No campo político, quem opta por aproveitar-se do cargo para sobreviver não passa de um “mágico político”. E, infelizmente, a política está cheia de mágicos, que são mestres na arte da dissimulação e conhecem o verdadeiro poder que as aparências têm sobre a mente do povo. E usam-no com a toda a propriedade, para iludir o povo com a sua dissimulação.
Estes políticos que fazem “malabarismo político” no seu dia a dia, inclusive às pessoas que lhe são mais próximas, da forma mais ignóbil e cruel, não têm consciência moral e são os primeiros a acharem-se os superiores donos da razão e não têm pudor em pregar falsos princípios e valores em público. É o auge da hipocrisia.
Mas um dia são descobertos, porque a verdade vem sempre ao de cima. E nesse momento, nem o malabarismo mais criativo consegue ludibriar a realidade dos factos. E quando o povo descobre que estava a ser manipulado por políticos mágicos, todo o respeito que nutria passa a escárnio e desilusão.
Há quem considere a hipocrisia um dos males da democracia, na medida em que os políticos, para angariarem o maior número de votos, acabam por mentir e mascarar a sua verdadeira essência para obterem a simpatia do povo. São uma espécie de ditadores, mas de forma velada.
Após quase 49 anos de democracia no nosso país, importa ressaltar isto, pois a hipocrisia é um dos perigos da mesma e, infelizmente, está instalada no nosso sistema político nacional e local. A bem da democracia e do interesse público, cabe a todos nós, combatê-la de forma a que o nosso sistema político nunca se transforme numa “democracia ditatorial”, regida por hipócritas.
Voltarei….lutando como Sá Carneiro.
Joaquim Plácido

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