NO CONCELHO

Aos 81 anos não é tarde para aprender a surfar

Onze pessoas idosas rumaram da ilha do Faial, nos Açores, a convite da Associação Extragenária, para conhecerem os encantos dos municípios de Vagos, Ílhavo e Aveiro

Ângelo Valente, animador sociocultural, acredita que “estamos sempre a tempo de sermos as pessoas mais felizes do Mundo”. Foi por isso que, através da Associação Extragenária, recém-criada em Vagos, quis proporcionar quatro dias inesquecíveis a um grupo de 11 pessoas idosas que viajaram do Faial, nos Açores, para conhecer aquela que Ângelo entende ser “a melhor região do Mundo”. Dessa forma, o que podia parecer impensável, aconteceu: oito dos membros do grupo, com uma média de idades que ultrapassa os 70 anos, tiveram uma aula de surf, na praia da Vagueira. No final, os sorrisos nos rostos mostravam o que as palavras confirmavam: todos gostaram e querem repetir.
Aos 81 anos, Encarnação Rebelo deu o exemplo. Foi a primeira a colocar-se em cima da prancha, deitada nela de barriga para baixo, ainda na areia, enquanto os instrutores da Migas Surf School explicavam os procedimentos básicos. “Nunca se segurem à prancha. Confiem em nós”, aconselhou João Gomes, que logo de seguida entrou com Encarnação no mar, acompanhado por Miguel Rocha, tetracampeão nacional de bodysurf, e por mais dois ajudantes, entre os quais Ângelo Valente. “Quando vamos ao mar, parece que as coisas ficam melhores. Vão estar acompanhadas de quatro pessoas que nada farão para vos colocar em perigo”, frisou o animador sociocultural, para descansar os alunos.
Receosa – confessou depois –, Encarnação Rebelo entrou no mar, deitou-se em cima da prancha e disfrutou. “Adorei. Nunca tinha feito tal coisa, mas adorei. Estava com medo, mas agora já não tenho medo nenhum e tornava a ir outra vez, sem pensar duas vezes”, garantiu a idosa, mal saiu da água.
Um a um, os oito aventureiros sentiram um bocadinho do que é colocar o corpo à mercê da liberdade das ondas. E todos, sem exceção, chegaram à areia com um sorriso estampado na cara. “Foi uma aventura ótima. Saí de casa, nos Açores, a dizer a todas elas que para o mar não ia. Mas, aqui, o instrutor preparou-me de tal maneira que mudei de ideias e quis entrar”, contou Alda Estrela, de 72 anos, outra das “surfistas”. “A água tem uma temperatura belíssima e a sensação de estar na água faz parecer que não estamos neste Mundo. Ficava ali mais uma hora, quem me dera ir mais uma vez. Mas sei que tenho que dar a vez aos outros”, adiantou a faialense.
Programa recheado
“Quando pensámos nesta atividade, pensámos no surf para as tirar da zona de conforto. Queríamos muito desafiá-las e acho que resultou plenamente. Estão eufóricas. Mesmo as que não quiseram ir, já estão arrependidas”, explicou Ângelo Valente, no final da atividade.
Mas o programa “das festas” não terminava por aí. Numa deslocação ao Faial, em que interveio junto da comunidade local, Ângelo Valente lançara o repto para uma visita à sua terra – proposta essa que foi, depois, aceite por um grupo de pessoas que telefonou a dizer que aceitava visitar Vagos. E o animador sociocultural, juntamente com a sua equipa – composta, também, por Sofia Nunes, a gerontóloga com quem faz anos há mais de uma década –, delineou uma receção recheada de atividades, entre os dias 18 e 21 de setembro. Tudo com o apoio dos agentes locais, tanto de Vagos como de Ílhavo e de Aveiro.
“Nenhuma destas pessoas vai gastar um cêntimo e a nossa associação vai suportar apenas custos ligeiros. Foi maravilhosa a forma como a sociedade respondeu a isto. Fomos busca-las com carrinhas emprestadas, tivemos empresas a patrocinar, restaurantes a oferecer comida”, ressalvou Ângelo.
Instaladas as três noites na “surfhouse” da Associação de Surfistas de Vagos, na praia da Vagueira, as idosas visitaram as salinas de Aveiro, a fábrica dos ovos moles, o Museu Santa Joana, o Museu Marítimo de Ílhavo, entre outros locais. Mas depois da aula de surf, até porque a barriga já começava a dar horas, esperava-as uma caldeirada típica da região, nas instalações dos pescadores da Vagueira de arte xávega, confecionada pelo chef Tony Martins.
“Muitas destas pessoas tiveram períodos difíceis, de luto e de superação de doenças, e tiveram esta coragem, de vir para o desconhecido. Superar esse medo é aquilo que a Associação Extragenária quer, que é dar a ideia de que estamos sempre a tempo de sermos as pessoas mais felizes do Mundo”, deixou claro Ângelo Valente.

“Não há palavras para agradecer o que fizeram por nós. Estava com medo, mas agora já não tenho e tornava a ir”

Encarnação Rebelo, 81 anos

“Ficava ali mais uma hora. A sensação de estar na água é como se não estivéssemos neste Mundo”

Alda Estrela, 72 anos


S.F.

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