EDITORIAL

Recomeçar não é rápido

EDITORIAL

Recomeçar: tornar a começar; voltar ao início. Recomeçar é sempre uma tarefa exigente. Seja recomeçar a vida numa nova cidade ou país novo, seja retomar hábitos perdidos. O ponto de partida de algo raramente é simples, ágil e indolor. E, depois de umas eleições, que é o período em que nos encontramos, não é diferente. Pelo menos, quando existem mudanças na liderança das autarquias. Há um recomeço.
Obviamente, o trabalho que foi feito por quem exerceu anteriormente aqueles cargos não fica esquecido – ou, pelo menos, não deve ficar – e espera-se que quem é eleito não incorra no erro de tentar corrigir tudo o que está para trás. Mas, de certa forma, existe um recomeço. Os novos órgãos demoram a instalar-se e a colocar-se a par dos dossiers das instituições. Mesmo quando são os mesmos partidos políticos a ficarem no poder, os agentes são outros. Até há quem peça, como o edil de um município vizinho fez há pouco tempo, um período de “estado de graça”, para quem toma posse em novas funções. O certo é que dá a sensação, muitas vezes, de que os municípios e as freguesias, quando existem essas mudanças de liderança, acabam sempre por passar um período de estagnação, que não é benéfico para quem neles vivem.
A lei da limitação de mantados, que proíbe um presidente de Câmara ou de Junta de permanecer em funções mais do que 12 anos – três mandatos – seguidos é crucial para a saúde da nossa democracia e para impedir (mesmo que nem sempre o consiga) que se façam longas carreiras, alicerçadas na causa pública e em cargos públicos. Mas, depois, com a mudança chegam sempre períodos de aparente estagnação. Digo aparente porque, no seio das instituições, acredito que o trabalho, nos primeiros tempos, seja árduo, principalmente quando se querem implementar alterações ao funcionamento de serviços e às metodologias utilizadas. Mas é um trabalho “invisível” – ainda que, obviamente, necessário –, que não passa para o cidadão comum.
No caso das Câmaras Municipais, ou os executivos anteriores deixaram trabalhos em marcha, ou, quem toma posse, dificilmente vai conseguir colocar na rua projetos a curto prazo. Depois, vai-se a ver e um mandato de quatro anos dá para muito pouco. Porque não é de quatro anos de “obra”, na realidade, é de menos. Com isso, a população não vê as respostas chegarem e desespera, desacreditando ainda mais na classe política e nas promessas feitas em tempos eleitorais.
Carece-se de celeridade nos processos – ainda que vivamos num país em que a rapidez colide, quase sempre, com a burocracia desmedida. É essa a única conclusão a que chego. A celeridade nas instituições públicas – em vários campos – é urgente para os municípios e o país prosperarem. Ganha a classe política, com a tal credibilidade menos beliscada, ganham os munícipes. Ganhamos todos.
Salomé Filipe
Diretora do jornal

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