EDITORIAL

Quem vê caras não vê programas eleitorais

Editorial

Estamos a menos de três meses das eleições autárquicas, agendadas para 12 de outubro. Já se conhecem, em Vagos, os nomes dos candidatos de quatro forças políticas – PSD, CDS, PS e Chega. Mas no que a propostas concretas para o município diz respeito, pouco se sabe.
Quando as escolhas dos partidos foram anunciadas na praça pública, utilizaram-se, na maioria dos casos, “chavões” generalistas sobre a visão dos candidatos para o concelho – escritos em comunicados pouco detalhados. No entanto, se não estou em erro, nenhuma das candidaturas foi ainda apresentada oficialmente. Entretanto, estamos em pleno verão. Em agosto, como se sabe, o país fica parado. Depois, em setembro, começa a arrancar aos poucos. O dia 12 de outubro, quando se der conta, está ao virar da esquina. E votamos em quem? Em quê? Escolhemos pelas caras de cada um?
É claro que as propostas, antes das eleições, vão ser apresentadas – mal seria se não fossem. Mas temo que possa vir a acontecer o que é costume em muitas eleições autárquicas – e aqui não é um mal apenas de Vagos, mas de centenas de autarquias pelo país –, com os projetos daqueles que vão ser sujeitos ao escrutínio a serem mal divulgados e pouco comunicados. E a não terem espaço – nem tempo – para debate.
Sempre entendi que as eleições autárquicas são aquelas em que mais se esvaem as ideologias políticas de cada partido. Há linhas gerais que se mantêm, qual fio condutor, mas aos munícipes e fregueses interessam propostas concretas. Quem é que tem como prioridade a habitação? De que forma contam implementar políticas nesse campo? Quem é que quer apostar na agenda cultural? Que eventos gostaria de realizar no concelho? Que parte da rede viária é imperativa de ser reabilitada? Que medidas vão ser tomadas para fomentar o comércio local?
Os candidatos deviam ouvir a população, conhecer os seus anseios e apresentar-lhes soluções. Era importante haver tempo para, do outro lado, os eleitores conhecerem os programas e analisá-los. Que os mesmos lhes fossem explicados e detalhados. Só assim se votaria em consciência em quem vai liderar, depois, durante quatro anos, o território onde cada um habita.
A cruz no boletim de voto não deveria ter em atenção apenas o partido “a” ou “b”. Não se deveria votar neste ou naquele candidato porque “ouvi falar bem dele” ou até porque o conhecemos ou somos vizinhos do mesmo. Mas estarão os agentes políticos locais interessados em dar tempo à análise? E os próprios cidadãos, por seu turno, terão verdadeiro interesse na política autárquica local? A resposta a ambas as questões deveria ser “sim”. Mas, na realidade, não sei se será assim tão linear.
Salomé Filipe
Diretora do jornal

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