Tem a palavra a Mesa
A “bomba” vai rebentando por todo o lado. Temos eleições à porta e tenta-se fazer um discurso que vá com as modas, e como ter barracas à porta é feio há que mandar abaixo, quem lá estava que se amanhe.
Os grandes centros urbanos trazem destas coisas, mesmo ao lado das vidas ditas “glamorosas” temos aqueles que trabalham e fazem mexer toda uma economia, mas que não tem direito a uma vida com um mínimo de dignidade. Essa dignidade passa, na base, por ter um sítio onde o ser humano possa pelo menos repousar de um dia duro de trabalho e é isso que vai sendo progressivamente negado a essas pessoas.
Vários fatores vão contribuindo para isso como sejam o aumento de população (que o país necessita para crescer) e o crescimento desregulado do setor do turismo na vertente da criação dos designados “Alojamentos Locais”, que tendo a vantagem de contribuir para a reabilitação urbana, tem o revés de ir expulsando moradores dos centros das cidades para a sua periferia, criando pressão urbanística que leva a uma ultra periferia de barracas.
Ter barracas ali ao lado é feio? É, mas devia ter-se pensado nisso em tempo útil. Não o tendo feito há que tolerá-las enquanto se arrepia caminho para resolver o problema e claro, é preciso arrepiar caminho. É pouco digno viver numa barraca? É, mas deixar famílias sem 4 paredes e uma telha para as proteger é profundamente desumano. Ironia das ironias é que os que vivem nessas barracas trabalham, muitos deles, precisamente no setor da construção.
Descurámos a construção de habitação social a custos controlados durante anos a fio, sugerindo que a iniciativa privada envolvida no mercado de habitação era suficiente para o manter estável. Está aí o resultado que nos prova à saciedade que não o é. O país tem nestes tempos menos de 2% de construção de habitação social, o que compara muito mal com o que se passa a nível Europeu onde este valor oscila entre os 10% e os 15%.
Para minimizar este problema há que implementar políticas a médio e longo prazo, concertadas a nível governamental e autárquico, de modo a criar coesão territorial, evitando a debandada generalizada de população para os grandes centros urbanos, e com isso diminuir a pressão urbanística nesses mesmos centros. A curto prazo teremos mesmo que construir e reabilitar habitações de modo a aumentar a oferta no mercado e com isso tornar a habitação mais acessível.
Ou avançamos rapidamente ou a conflitualidade vai aumentar e sobrecarregaremos a curto prazo o setor social de uma forma incomportável com os meios existentes no mesmo.
Fernando Morgado
Mesário da SCMV