Desporto
Vítima de doença oncológica faleceu no dia 13 de agosto o Mário Kalssas, Mário Jorge da Rocha de seu verdadeiro nome, ex campeão nacional de Motocross e que teve o ponto mais alto da sua carreira na década de 80 do século XX.
Embora as comparações em desporto sejam muito difíceis, terá sido, em minha opinião, o vaguense que atingiu maior expressão competitiva a nível nacional em todas as modalidades ou, por outras palavras, o maior campeão que Vagos já teve. Por isso mesmo e também pelas suas qualidades como pessoa, justifica-se inteiramente esta homenagem, numa rubrica dedicada ao desporto.
O seu currículo desportivo é impressionante: iniciou a carreira em 1975 e foi por 5 vezes Campeão Nacional de Motocross: em 1987 e 1988, em motas de 250 cm3 e em 1987, 1988 e 1989, em 500 cm3. Para além disso, foi atleta internacional, representando Portugal, em competições organizadas pela Federação Internacional, como o Motocross das Nações (França, 1988), Troféu das Nações (Suécia, 1984), Taça das Nações (Itália, 1981 e 1982 e Suiça, 1983). Isto, para além doutros títulos “menores”(?), como os de Vice-Campeão Nacional, que obteve 7 vezes.
Em termos desportivos, reconhecem-se as suas melhores qualidades: com verdadeiro talento, era metódico, cuidadoso com as suas motos e com a sua preparação, apaixonado pelas duas rodas, com espírito de luta, dedicação e amor à modalidade, tornou-se uma verdadeira referência e uma fonte de inspiração para os jovens pilotos.
Para a Federação Portuguesa de Motociclismo, “Mário Kalssas representou o verdadeiro espírito do motociclismo: entrega total, camaradagem e superação”.
Em termos pessoais, era um ser humano extraordinário: simples, humilde, despretensioso, dedicado, acessível, granjeou o respeito e a amizade com todos aqueles que com ele privaram.
Não sendo um apreciador dos desportos motorizados, assisti, no entanto, nos finais da década de 70, a várias provas de motocross onde o Mário participou e já nessa altura era uma das estrelas da modalidade; no entanto, apenas o conheci pessoalmente em 1981 e não resisto a contar a situação.
Vindo eu viver para Vagos nesse ano e sabendo ele que eu era professor de Educação Física, procurou-me em casa e convidou-me para orientar o seu treino físico, aspeto que considerava fundamental para a obtenção de boas performances, devido ao enorme desgaste físico provocado pelas provas. Apanhado de surpresa, recém-licenciado, inseguro, desconhecedor da modalidade e amedrontado com a dimensão desportiva do atleta, com medo de falhar e com um exigente estágio pedagógico à espera, descartei o convite e disse-lhe que não. Aceitou bem a minha recusa, nunca mais se falou no assunto, mas ainda hoje me arrependo dessa decisão, uma má decisão.
Estou certo de que, uns tempos mais tarde e com outra maturidade e experiência, teria dado a minha melhor colaboração e, eventualmente, contribuído para o seu sucesso. Ainda hoje me arrependo dessa oportunidade perdida mas, apesar disso, ficámos amigos, embora com um relacionamento distante, porque raramente nos encontrávamos. Bem recordo o nosso último encontro, talvez em abril/maio deste ano, numa sala de espera, onde conversámos durante meia-hora. Não o sabia doente e tudo nele me pareceu normal, daí a minha surpresa e desgosto com a sua morte.
Depois do Mário Pandeirada, o Mário Kalssas; espero que este espaço de comunicação não se torne um obituário, uma referência a desportistas e a campeões desaparecidos.
Até sempre Campeão. Até sempre meu Amigo.
Paulo Branco
