Tem a Palavra a Mesa
Queridos leitores, utentes e familiares.
Atrevo-me a sair do âmbito direto das valências da nossa instituição por achar premente refletir o estado atual das nossas vidas, os temas da atualidade, temas que nos dizem respeito a todos.
Atualmente, vivemos momentos de grande desorganização mundial – em todos os domínios, vivenciamos o desnorte da humanidade, a vários níveis e com graves incidências na nossa esperança de vida e da harmonia pessoal e coletiva.
Politicamente, os ânimos estão em ebulição em todos os cantos do mundo: atingimos níveis de raciocínio estratégico que nos transportam para o período medievo: o sentimento de poder dominar outrem, “só porque sim”, ignorando as razões de autodeterminação dos povos e nações.
Por cá, estamos também em permanente disputa da verdade, a vontade de dominar, de se ser o “dono disto tudo”, perturbando a sã partilha nos aspetos mais improváveis da nossa vida.
Na escola, a ideia de que as crianças são o centro da ação educativa, leva a tendências, para mim, aberrantes: por exemplo, “eu não quero aprender sobre isso”. Logo alguém mais iluminado, vem validar essa atitude nos petizes e, na sequência, vêm os Pais achar que também podem opinar sobre o currículo (que formação tiveram para tal?), apoiando os seus principezinhos, dando-lhes o privilégio da razão, ao ponto de virem eles próprios a sofrer desse delirante princípio – “nós somos crianças, nós é que sabemos”.
Esta faceta, perspetivada nos “líderes” – mundiais ou mais caseiros, origina movimentos que já achávamos impossíveis de voltar a verificar. “Eu é que sei… eu é que mando…” é a fase em que estamos – o outro não pensa bem quando os contraria! O ser humano na sua mais brutal negação. Como nos podemos dizer inteligentes, se passamos a cultivar o poder do ego? Assistimos a ações de tal modo egocêntricas que, até aos adolescentes informados e conscientes, causam estupefação. Mundialmente, estamos a ser dirigidos por políticos que não estudaram a história da humanidade e consequentemente não conseguem medir as consequências dos seus atos nem as nefastas continuidades futuras.
Estamos em presença de várias catástrofes planetárias, das quais a mais impressionante é o recrudescimento de guerras, guerrilhas que estão a manchar de novo a História. Isto se sobrar alguém para escrevê-la. Quer seja na natureza, quer seja em termos humanitários, quando falamos de catástrofes, há sempre alguém que te corta o raciocínio para te apelidar de fundamentalista. Pessoalmente, perturba-me o facto de deixarmos acontecer, de não nos “mexermos” por causas que, objetivamente, são de todos nós e sempre nos deixaram incrédulos por poderem vir a ser o nosso maior pesadelo.
Será o egoísmo o único motor desta era?
Tudo ainda mais me revolta nas atitudes dos que se dizem atuar em prol dos demais, sendo afinal, o seu exato contrário. A minha mais recente “peleja” reportou-se ao facto de não haver sanções para as empresas que têm responsabilidade direta nos distúrbios alimentares e na obesidade mórbida grassante. Logo o argumento foi o poder do livre-arbítrio. Contrapondo, questionei o facto de alguns produtos ditos alimentares, serem compostos por elementos que causam dependência e contribuem assim, insidiosamente, para estados físicos muito graves, penosos para o doente, mas também para a sociedade que deverá apoiar o tratamento e acompanhamento de um tipo de enfermidade evitada; deveriam ser revistos e regulamentados os processos de produção de “alimentos” que verdadeiramente o não são: não alimentam, apenas aumentam a vontade de comer, sem qualquer retorno para a saúde e equilíbrio do organismo, causando dependência mórbida. Há quem enriqueça à custa de quem adoece… assim é em todas as dependências criadas pelo ser humano. Haverá algo mais ignóbil? Será ou não um crime que devia ser alvo de ações imediatas? Se até o cinto de segurança é obrigatório na proteção da vida humana? Como não penalizar a produção massiva de “alimentos” que nada trazem de bom à saúde?
Não continuar a enunciar situações de desvario originada na inesgotável ambição de alguns… Crimes sem esse nome, ações “legais”, mas sem ética, sem respeito, sem sentido de humanismo – ações económicas irrefletidas que deixam muitos sem teto, sem trabalho… com todas as consequências que daí advêm.
Tenho que concluir, com alguma esperança, para um final distinto, limpando mágoas, mas sem ignorar ou compactuar com a selvajaria mundial que nos assola todos os dias, nas notícias, nos jornais.
A nossa SCMV, em todas as suas valências, vai no exato oposto do que vivenciamos na atualidade: somos a preocupação com o outro, a ação direta na melhoria de condições de vida de todos os que connosco contam, é aquilo que mais esperança me dá um sentimento de preenchimento. Orgulho-me de fazer parte desta família que cuida, ampara e protege em todas as etapas da vida.
É tudo o que difere de ações políticas ou comerciais egoístas, sem ter em conta quem mais precisa. Tudo o que até aqui mencionei é a razão pela qual me orgulho de poder colaborar, sinto que estamos em conexão com o essencial à vida humana – somos exemplo a seguir.
E sempre com a preocupação com o ambiente, o que também define a nossa ação perante a nossa casa global, todas as nossas ações por mais pequenas que sejam podem ser o bem ou o mal que vai deixar a marca na nossa história global.
A todos as merecidas férias (quando for o seu tempo) com a melhor e maior responsabilidade, pensando sempre no melhor para todos !!
Maria do Céu Matos, Mesária