O cantinho de João Ferreira
Tendo prometido escrever mais sobre a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vagos, da qual o Sr. Armor Pires Mota escreveu um livro com o título “75 Anos – Bombeiros de Vagos”, neste mês debruço-me sobre essa mesma promessa (entre outras coisas mais).
Os Bombeiros Voluntários de Vagos encontram-se já há algum tempo em contagem decrescente rumo ao século de existência e serviço – caso me mantenha forte, cá os espero em 2028. Os Bombeiros Voluntários de Vagos são a coletividade mais antiga do nosso concelho; segue-se o Centro de Educação e Recreio, fundado em 1939. Falando no serviço prestado pelos Bombeiros, lembro-me quase perfeitamente do seu começo: tinha eu onze anos quando os bombeiros levaram o cadáver do meu avô Constantino, numa carreta puxada à mão para o cemitério de Vagos, vindo da rua hoje chamada de Santo Isidro. Talvez por coincidência, ou talvez não, o cemitério encontra-se na rua dos Bombeiros Voluntários de Vagos, logo a seguir à curva da Rua da Saudade.
Ainda antes disso, no primeiro quartel desta tão cara Associação (esse quartel que mais tarde ardeu), para que sobrevivessem, os bombeiros faziam sessões de cinema. Eu, o vosso articulista, ainda uma criança de seis ou sete anos, recordo os bilhetes do mesmo e os seus preços: os estrangeiros a 1 escudo e os nacionais a 50 centavos mais. Diz o meu neto, que pessoas de idade inferior em quinze anos à sua ou mais, nem saberão bem-bem o que é um “escudo”, por terem nascido já depois da transição para a moeda única europeia: o Euro.
Tendo tido toda a casta de espetáculos, o salão de cinema do primeiro quartel transmitiu no grande ecrã filmes de renome, através de companhias itinerantes. Filmes esses, em que os próprios bombeiros faziam papel de porteiros, entre outros trabalhos. Recordarei alguns dos filmes que vi: “Amor de Perdição”; “Inês de Castro”; “O ladrão de Bagdá”; “O regresso do par invisível”; entre outros. Era o tempo do “Bucha e Estica” e dos “Três Estarolas”. Também recordo na perfeição de lá ver o Camilo de Oliveira e outros artistas, cobrando-se ele, mil escudos por entrada. Eu já o conhecia, e assim, a par com a minha finada esposa Maria Lina, conversamos com ele. E se à questão de quantas pessoas viriam respondi 130, o número de bilhetes vendidos foi 133.
Como com o passar do tempo se mudam as vontades, os Bombeiros viram o seu número aumentado pela força feminina, isto é: até à data, as mulheres, não podiam por lei exercer a função de bombeira, mas isso mudou em 1946. Anos depois, os bombeiros tiveram de mudar de quartel devido a um incêndio na própria casa dos combatentes. Assim, o quartel que hoje existe, e que bem conhecem, é o segundo desta Associação.
Com votos de que cheguem ao centenário, assumo que muito mais haveria a dizer, prova disso é a existência do livro “75 anos dos Bombeiros de Vagos” por Armor Pires Mota, assim em forma de despedida explico que uma foto do antigo quartel fará ilustração ao artigo (retirada da página 32 do dito livro).
João dos Santos Ferreira