Outubro traz à CAR o tempo de navegar à bolina. As meninas já estão envolvidas com o novo ano escolar e a frequentar as atividades extracurriculares que escolheram. Com as regras e rotinas destes tempos de trabalho já retomadas e antes que surja a preparação do natal a equipa técnica e educativa dedica-se às questões burocráticas que cada processo exige.
A última jovem, das cinco que completaram o 12.º ano e saíram do ninho, deixou-nos. A sua vida já está orientada, com casa para viver e trabalho para lhe garantir autonomia e sobrevivência. Gostamos de as ver partir assim…e lançamos-lhe o último desafio! Pedimos-lhe que escrevesse sobre a sua passagem pela CAR durante os anos que a vimos transformar-se de menina em mulher.
Deixamos o seu registo:
“A minha entrada na CAR não foi fácil, eu era uma menina com apenas 12 anos. No dia da minha entrada, estava chateada e revoltada e entrei de cara fechada e braços cruzados, não queria proximidade com ninguém. Umas senhoras, que na altura não achei simpáticas, mandaram-me encontrar o meu quarto, mas quando descobri o meu nome na porta do quarto vi que tinha um “s” a mais, comecei logo a reclamar, nem o meu nome sabiam escrever…
Acho que os inícios foram complicados, havia regras e mais regras e eu não estava habituada. Foi complicado habituar-me a dar-me com as meninas mais velhas. Reconheço que no princípio fui uma menina complicada e difícil de lidar, mas com a ajuda das doutoras que eu no início não gostava e fui aprendendo a gostar, tudo melhorou. Sem dúvida que elas marcaram a minha vida e vou-me lembrar sempre o quanto me ajudaram a crescer.
Desde que entrei que sempre sonhei com o dia da saída, o momento de me ver livre da CAR. O desejo de voltar à minha família era a coisa com que mais sonhava.
Hoje no dia da minha despedida vejo que graças às pessoas da CAR, consegui concluir o meu curso e tornar-me uma pessoa menos revoltada. Hoje consigo olhar para trás e ver que nem tudo o que eu pensava de uma casa de acolhimento é a realidade. Vou ter imensa pena de deixar as doutoras e funcionárias que sempre me apoiaram e estiveram lá para mim mesmo quando tudo corria mal. Na instituição aprendi a descobrir o melhor de mim. Sou menos revoltada e sinto-me realizada como pessoa. Graças ao apoio e incentivo e muitas lições que guardo na minha bagagem acredito que vou conseguir uma vida saudável e diferente daquela que estava destinada se tivesse ficado na casa da minha família.
Passado seis anos da minha entrada saio acreditando que sou uma pessoa diferente. Sou melhor e a CAR ajudou-me. Voltarei sempre que puder…beijinhos a todas”.

Ficamos de olho em ti, M., ficamos de olho em vocês todas que vão deixando a nossa casa. Cá esperamos as vossas visitas! A porta continua aberta, como sabem!
Casa de Acolhimento Residencial

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