Growth of natural gas price. Gas meter with stacks of coins.

Caro leitor, tenho por força da indignação que sinto, voltar ao tema da energia, referido no meu artigo anterior de outubro de 2022, sob o título “Descarbonização e Sustentabilidade da Santa Casa”. Para não tornar fastidioso este retomar, refiro apenas que as previsões de custo energético com dados consolidados de julho, foram bem piores. Para facilitar, deixo apenas esta nota: em novembro e dezembro somados, pagamos cerca de 33.000€ de gás; esta conta foi igual à do ano de 2020 inteiro, pasmem-se, com menos consumo.
Será este custo justo? Não, não é. Este preço foi largamente ampliado pelo comercializador, usando margens e previsão do custo de ativos futuros, demasiado cautelosos e a seu favor; esta é a razão da minha indignação, até porque o fornecedor os podia ter corrigido e não o fez. Este sistema de previsão trimestral, não sendo ilegal está mal regulado, e o ministério da energia tem de olhar para isto, caso contrário todos os setores de atividade que dependem massivamente do gás para a sua atividade, vão acabar por fechar portas mais tarde ou mais cedo.
A título de exemplo, para provar as afirmações no parágrafo anterior: em dezembro recebemos a previsão de custo (gás) para o trimestre seguinte, de 144€ por MWh (megawatt hora). Na fatura de janeiro o valor foi de 156€. O valor desta unidade de energia, no mercado ibérico, esteve em janeiro já abaixo dos 60€, o que significa que o comercializador está a multiplicar por 3. Os custos de transporte são muito inferiores. Não encontro razão para este descalabro, até porque no momento em que estou a escrever este artigo, o preço no mercado para o dia 20 de fevereiro é 49,69€ por MWh. Mas de certeza que na fatura de fevereiro o preço vai ser 156€ por MWh.
Será que os políticos sabem? Sabem! A Comissão Europeia, já tinha indicadores em meados de 2022 que apontavam nesta direção, e que as empresas energéticas se estavam a aproveitar da crise energética provocada pela falta de oferta de gás no mercado devido à guerra na Ucrânia. Mas neste momento as fontes de fornecimento foram diversificadas e o mercado está em queda desde março de 2022 quando o preço do MWh de gás ultrapassou os 300€. Nada justifica o preço cobrado atualmente e a concorrência em Portugal parece que não funciona.
Grosso modo, das notícias que vamos ouvindo, todas as empresas energéticas quase duplicaram os seus lucros em 2022 face a 2021. A solução proposta pela Comissão Europeia foi a de se taxar os lucros excessivos das empresas do setor energético. Portugal aprovou a taxa de um terço. Certo. Alguma coisa tinha de ser feita, mas isto não é regulação. O problema é que a redistribuição deste imposto nunca vai chegar de forma justa às instituições/empresas, que foram roubadas em todo este processo de mercado. Por favor, haja alguém que ponha mão nisto.
Votos de um bom início de ano, para os nossos colaboradores, leitores, clientes e amigos.

João M. C. Domingues
Mesário Vice-Provedor

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