Cantinho de João Ferreira
Esta grande artista de teatro, cinema e revista, Eunice Muñoz, foi vista quando era uma jovem pelo vosso articulista, João Ferreira, no teatro Sá da Bandeira atuando numa peça antiga: “António, o Marinheiro”. A dita peça foi modernizada da idade média para se adaptar à realidade da década de sessenta e a Eunice, na altura uma jovem de trinta poucos anos, fazia o papel principal, juntamente com uma outra artista da minha infância: Maria Lalande. Eunice Muñoz fazia de filha dessa artista que era viúva do já falecido “António, o Marinheiro”, bem como irmã daquele que o matou. Nesta peça trágica, a personagem de Eunice Muñoz amantiza-se primeiramente com o pai “António, o Marinheiro”, sem saber que ele o era, sendo que mais tarde a mãe é lhe explica o incesto nessa relação (qual estória de Édipo Rei às avessas).
Eunice Muñoz participou de dezenas de filmes que vi durante a vida, dos quais nomeio alguns: “Um homem do Ribatejo” com Barreto Poeira e Costinha, em que se dá a entrever um pouco da vida ligada à tauromaquia, bem como casamentos malfadados devido a triângulos amorosos; “Ribatejo” com Virgílio Teixeira e Vasco Santana, onde se mantém a linha temporal anterior e Eunice, num ato futurista se mostra como líder de toda uma vila de vaqueiros e toureiros… escusado será dizer que a vila não via com muito bons olhos a liderança de uma mulher, sendo que toda a história gira em torno de uma revolução contra a personagem principal e no fim, com a intervenção do personagem de Vasco Santana, a desistência de a derrubar; também “Os três espelhos” com João Villaret e “Camões” com António Vilar, de onde surge a interação por parte do mesmo: “Não… ficai! O ódio também faz companhia.”. Houve até um filme, cujo nome não recordo, mas a estória desenrolava Eunice como beata falsa, que criava num menino, seu afilhado, um futuro sacerdote, mas o pequeno não queria.
Nesta vida de artista, Simone de Oliveira também se destaca na cultura portuguesa como grande fadista e atriz. Este portento de mulher, esteve em Vagos no ano de dois mil e oito, no largo do município em frente ao palácio da justiça, para fazer entrevista a mim, João Ferreira, sobre “Os Maias”, a nossa terra e este jornal: o “Eco de Vagos”. Lembro-me como se fosse hoje, estive aí uns três quartos ao telefone com uma trabalhadora da SIC, um dia antes da entrevista, para demonstrar o que sabia. Já no próprio dia estive outros três quartos a falar com a Simone sobre o romance de Eça de Queiroz, e dei-lhe quatro beijinhos e sentei-me lado a lado com ela frente às câmaras do “terceiro canal” para discutir tudo o que já expliquei (os atentos lembrar-se-ão com certeza de me virem saudar por aquele quarto de hora com a famosa Simone de Oliveira.). Antes de tudo isso já a tinha visto também no teatro Sá da Bandeira a atuar na “Tragédia da Rua das Flores” adaptada de Eça de Queiroz.
Dentre os portugueses, os vaguenses conhecem-na bem da “Desfolhada” que foi bater-se na “Eurovisão” pelo ano de mil novecentos e sessenta e nove. E, na minha humilde opinião, quatro pontos e penúltimo lugar soube a pouco, como em tantos outros anos, que a nossa participação nesse festival pareceu continuamente forjada. “A Tourada” por Fernando Tordo; “E depois do Adeus” por Paulo de Carvalho; até a “Lusitana Paixão” por Dulce Pontes, todas elas magnificas, mas “malvistas”, por serem cantadas em português. Salvo as exceções mais de Vânia Fernandes com “Negras Águas” (segundo lugar), e Salvador Sobral com “Amar pelos Dois”, a nossa grande memória do ano de dois mil e dezassete, um ano depois de termos sido campeões de futebol de onze com o golo de Éder. Para o ano, completam-se dez anos desta vitória, e, citando um poema inédito do meu neto: “O tempo passa, faz de nós raça, / Quem chega aos cem é campeão.”. Tenho-lhe dito algumas vezes que lá chegarei, mas saber sabe ninguém… por ora um bem-haja, boas leituras e um grande abraço aos meus amigos, ávidos leitores do “Eco de Vagos”.
João do Santos Ferreira
