Opinião
Antigamente, o povo dizia que se apanhava mais depressa um mentiroso do que um coxo. A presumível crueldade em relação aos que tinham uma deficiência na locomoção baseava-se numa forma de estar em que a realidade era apenas uma, e não várias. Poderia distorcer-se, de acordo com os pontos de vista, mas era só uma verdade.
Hoje, não é bem assim. A verdade, capturada não na sua totalidade, mas muitas vezes em pequenos pormenores que se tornam essenciais, é difícil de perceber. Muita gente, fotografa, poucos vêem. Muita gente opina, sem perguntar. Muita gente decide e julga, sem refletir. E este é um dos problemas que nós todos, numa cultura informatizada, globalizada, acelerada, sofremos. Nem sempre tudo o que parece é.
Mas o mais grave não é isso. Porque se chega facilmente a muita gente, quase a toda a gente, há a noção de que se consegue, de forma engenhosa e consciente, DETURPAR a realidade, criando uma nova verdade em que muitas pessoas vão acreditar. E, se a estratégia de convencimento for inteligente e correta, vão defender essa mentira, muitas vezes não sabendo sequer o que estão, efetivamente, a defender.
Donald Trump é um exemplo claro desta política de desinformação. Não, mentira. Donald Trump mente descaradamente, perigosamente porque, apesar de ser claramente um dos líderes mundiais menos preparados para a responsabilidade que tem, sabe que se repetir uma mentira muitas vezes, para o público certo, essa mentira transforma-se em verdade. E é o pior dos inimigos para se combater, a ignorância.
Donald Trump não é bom gestor. É mentira. Faliu empresas, usou subornos e ilegalidades para fazer alguma fortuna. Donald Trump não quer apenas o bem dos americanos, quer principalmente o seu bem pessoal – se não, não fazia o que está a fazer com milhares na administração pública. Donald Trump não quer a Gronelândia ou alguns territórios da Ucrânia por uma questão de respeito pela autonomia ou por questões de segurança interna dos EUA. Não, o seu interesse é apenas económico. Donald Trump repete várias vezes que a União Europeia surgiu para prejudicar os EUA. Não. A CEE, antecessora da EU, surgiu para a Europa se reconstruir depois de 2 guerras mundiais e sempre foi parceira política, económica e militar dos EUA. Donald Trump mente, de forma constante e perigosa.
E, como se não bastasse, Trump acredita nas próprias mentiras e tem sempre a necessidade de se vangloriar disso mesmo. Não vou sequer refletir sobre aquilo que acho que ele faz, apenas deixo pistas para, nessa sociedade massificada, lerem alguns segundos. Tarifas. Guerra. A Ucrânia a invadir a Rússia. A linguagem muito pouco apropriada com que trata ex-presidentes do seu país e outros líderes mundiais. Terrific. Great. O clima. A subserviência a Putin e às suas mentiras.
Qual é o problema de tudo isto: as consequências de uma governação(?) catastrófica para todo o mundo. A todos os níveis. O fim de um liberalismo político-económico, a desagregação de antigas alianças responsáveis por um clima de paz e desenvolvimento. O agudizar dos extremismos. Talvez o nosso mundo ocidental sobreviva a isto, mas vai demorar muito tempo a recuperar. Pode ser que, no meu caso, ainda possa ir aos EUA e tomar banho nas águas do Golfo do México. Com amigos ucranianos e gronelandeses.
Seria bom sinal. Terrific. Great!
Filipe Jorge
Professor e Autarca