EFEMÉRIDE

Pluralidades deste 25 de Abril

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EFEMÉRIDE

Deputado municipal (1995), Óscar Gaspar dizia que a vitória em abril passava por acontecimentos comezinhos como “vestir calças de ganga, beber uma cola ou estar num bar em amena cavaqueira”. Garantia ainda que a sua geração, “rasca, imoral e desnorteada, como era conhecida, seria capaz de assumir o desenvolvimento do país”. Um ano depois (1996), admitia que a regionalização não iria abalar a coesão nacional: “como estava, a divisão do país por distritos era vazia de sentido”, especificava.
Jorge Oliveira (2003), reconhecia que a alteração à tributação do património era uma “violenta sangria” das receitas das autarquias. Já Ana Maria Vasconcelos (2006), sustentava que o horizonte futuro se afigurava “muito negro”, e deixava a receita: “é necessário um novo 25 de abril e, se ele vier pintado de vermelho, que seja só a cor dos cravos, ou das rosas, para variar”. Quanto a Mário Tarenta (2008), alertava o povo para não se acomodar, pois “era preciso dar lições de liberdade e evitar totalitaristas e vozes caladas”.
Na mesma linha se expressava Dina Ribeiro. Deputada do CDS prevenia (1998) ser preciso “avivar os conceitos de democracia e liberdade”, argumentando que “tínhamos dificuldades para os pôr em prática”. Mais cordato, Mário Júlio Almeida Costa (2005), apelava para “não nos rendermos ao pessimismo, mas acreditar em melhores dias”.
Detenhamo-nos nas deixas do PSD. Para Rui Cruz (2000), vereador eleito a nível local, o país carecia “de muitas madrugadas de abril”. Contudo, ia mais longe ao reconhecer que havia autarcas que, “direta ou indiretamente” eram “donos de tudo ou quase tudo”. Acrescentava, sem especificar: “outros fazem da autarquia centros de emprego, e até usam a religião para fins políticos”.
Dois anos mais tarde, Fernando Capela (2002), atacava dizendo que, nos dois mandatos do PP, “a liberdade e a democracia estavam em perigo”. Em 2004 haveria de reconhecer que “Vagos era um amontoado de processos em tribunal, com soluções bastante duvidosas e prejudiciais para todos”. Silvério Regalado era (2006) deputado municipal, e considerava que “cabia aos jovens, que cada vez menos se interessam pela vida política, entender os valores que estão por detrás de abril”.
Falta a palavra de dois presidentes. O primeiro, Carlos Bento (1996), lamentava-se que não havia “democracias perfeitas”, defendendo que questões como o desemprego, pobreza, insegurança e desagregação familiar “deviam ser resolvidas por nós, mediante intervenção pluralista, militante e participativa”. No novo milénio (2000), viria advogar que “o futuro e a luta pela liberdade não se constroem com retórica fácil, oportunismo ou má-fé”.
Concluímos com Rui Cruz (2003), que preconizava que a liberdade “como modo de vida”, só era possível se existissem reformas fiscais, administrativas, de saúde e do sistema de segurança social. “Só que as reformas custavam dinheiro, a liberdade custa dinheiro”, rematava. Dois anos mais tarde (2005), confessava que “só sonhando é que se conseguia o efeito libertador que o 25 de Abril nos permitiu”. E que (2006) “dos frutos de abril já pouco restava, apenas uma esperança ténue, no olhar de um cidadão”.
Na “luta” que travou num dos mandatos, Rui Cruz (2007) acusaria o Governo da sua interferência e controle sobre a vida dos municípios, ser “uma afronta que não podia nem devia ser aceite, em relação a tudo o que o 25 de Abril nos trouxe”. Ou, ainda (2008), que a história recente “começa a assinalar traços que marcaram a ditadura e conduziram à revolução”. Noutra frente, reforma do Poder Local, acabaria por reconhecer (2012), de forma desabrida, que “no assalto à autonomia do Poder Local, tal como D. Manuel I e Mouzinho da Silveira, também Miguel Relvas acerta no alvo, mas falhará Portugal”.

Eduardo Jaques

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