Fomos concluindo mais uma volta completa da terra em torno do sol até nos aparecer novamente janeiro. Janeiro traz consigo os desejos de um novo ano, cheio de esperança, de sonhos e de planos.

Na CAR a vida desenrola-se em planos sucessivos com várias dimensões e intensidades (por vezes intermitências…). O acolhimento de cada jovem é sempre um plano temporário que se há-de desdobrar em múltiplos planos e projetos, entre o agora e o mais tarde, que chegará em semanas, meses ou anos. Nunca sabemos a duração certa e elas, as nossas princesas sem coroa, também não. Esta angústia, perante o destino que temos que voltar a destinar, exige que se construam planos que lhes organizem as ideias na cabeça e os sentimentos no coração. Esta é uma tarefa complexa e nem sempre fácil. Os acordos estabelecem ciclos de seis meses que depois de concluídos e avaliados, pelos tribunais ou CPCJ’s, podem acrescentar sucessivos seis meses de acolhimento. As jovens não têm este calendário dentro delas e formulam sempre desejos de realização instantânea, normalmente sobre saídas imediatas, pois é a escapatória fácil à vida com responsabilidade.  Cabe à equipa da CAR, ajudar as jovens a formularem objetivos consistentes, devolvendo espaço e tempo para a reconstrução da capacidade de sonhar e de investimento em si próprias. Independentemente de terem 12 anos ou terem 18, ou 19, ou 20 anos, há desejos para cada ano novo, que se repetem nesta casa a cada janeiro. São quase que imutáveis…, ir embora, ter um telemóvel novo, tirar a carta de condução, tirar boas notas na escola, ir a casa da família, aprender a gostar de si própria, ir estagiar na madeira ou nos açores, ou no algarve, ter roupa nova, comprar esta ou aquela sapatilha de marca… O pote dos desejos está cheio e durante 2023 teremos tempo de ir olhando para cada um desses pedidos de ano novo com a esperança de feliz realização. Enquanto isso percebemos que a nossa casa é, uma casa como outra qualquer, quando olhamos para a cama de uma das nossas, já com 18 anos, e vemos que ainda existe infância… Se existe infância a capacidade de sonhar não se perdeu… teremos adultos resilientes e com grande probabilidade de serem felizes.

Casa de Acolhimento Residencial

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