OPINIÃO

A Temperança é o único caminho para a Liberdade

Opinião
Repentemente, regularmente e sem sapiência, os turbilhões de ânsias, precipitações, impulsividades, desassossegos, ilações simplistas lineares e em velocidades vertiginosas, engolem todos os pensamentos e ações, as paixões, os desejos obsessivos, interpretações pueris e impulsos reptilianos expandem o território da protérvia, invadindo o condado da temperança, expandindo muitas vezes a brutalidade, justificando-a com a necessidade de ordem, de liberdade de ação e decisão, erroneamente confundindo inação com prisão, ou com incapacidade de reação, o destemperado provoca a destemperança, espalhando-a como uma praga infeciosa. A destemperança alimenta-se no medo primário e na consequente necessidade de posse, ocupando os campos que se esperam produtores de sapiência.
Precisávamos tanto de sapiência para alimentar a temperança, a verdadeira temperança que cresce no conhecimento e no respeito sobre toda a diversidade da universidade. Sim porque como no Açafrão, há o verdadeiro e há o falso. Temperança amputada teve Pontius ao lavar as mãos da decisão sobre a vida de Yeoshua, deduzindo temperadamente que assim evitaria a revolta e a espectável contestação, fosse qual fosse a sua decisão, com falsa temperança moveu o ónus da resolução para uma turba de destemperados.
Nem só na decisão ou na ação é necessária temperança, espera-se que os seus pilares assentem no discernimento sobre as qualidades e as quantidades dos alimentos que nutrem a mente e o corpo. Porém, as vontades dos gulosos e desalmados inconscientes sentidos sobrepõem-se demasiadas vezes à inteligência, iludindo e vencendo a maioria das batalhas contra a mente, contra a Liberdade.
Sobre a temperança contou-me um dia um velho pastor:
“A vida encontrou a morte
À luz de um archote de luar,
Nas catacumbas do Norte,
Por entre as rochas do mar.
O negro esqueleto encimado
Por uma reles pluma enegrecida.
De manto alvo ao peito aconchegado,
Sobre um leque dourado, estava a vida.
Vieram as sereias, veio o sonho,
Aliados da vida palpitante.
E veio ainda o tempo, medonho,
Pronto a parar num coração distante.
Soltando um brado horrível, repelente,
A morte olhou o céu e fez chover.
A vida riu e disse brandamente:

A chuva é boa; mata e faz crescer!
Ainda mais irado o monstro horrendo,
Fez trovejar até o céu tremer.
E outra vez a vida riu, dizendo:

É coisa pouca, não há que temer.
Então a satânica criatura
Ergueu-se em fúria devastadora.
Tornou o inteiro mar em sepultura
E o horizonte em cruz assustadora!
E riu da sua obra deformante
Enquanto a vida olhava a loucura,
E o que viu feriu-lhe o olhar distante,
Soltou secas palavras de amargura:

Mataste tudo e todos morte dura,
Não controlaste, estulta, o teu poder.
Para esse mal conheço eu bem a cura,
Pois não podes matar quem não nascer!
Isenção de movimento a título de ensaio…
A criança adormecida
Que espreitava a vida,
Não abrirá flor em maio!
O que resta aos vivos é viver
Sem se render.
E antes de saltar na escuridão
Dar aos sentidos devida atenção.
É melhor desacreditar na ilusória esperança
E seguir o caminho da temperança.”

Por vezes existem pequenos odores que a nossa pele absorve e alimentam-nos o ego,… doces fluidos invadem-nos o desejo.
Destemperadamente a adrenalina toma conta de todas as nossas atitudes, sentimos um vazio seco na boca e no estômago, sentimos a nuca contrair-se,… um aguaceiro molha-nos de vermelho as imagens da alma – vermelho, vermelho sangue… sentimos o vazio do infinito, ânsias imensuráveis, é oco o nosso sentir, ficamos desorientados, desequilibrados, perdemos a noção de verticalidade, só nos apetece gritar, bater, correr,… ou, deitar e fechar os olhos, mas se o fazemos sentimos um desassossego imenso.
Tudo devido ao imprevisto, ou ao previsto que nunca se julgou que realmente acontecesse.
E quando assim assoberbados, da temperança, nada resta…
Para que a verdadeira temperança se afirme inúmeras daninhas infestantes que proliferam no fértil campo da mente humana, têm de ser extirpadas constantemente porque florescem em qualquer estação do ano.
A paixão, o medo, o egoísmo, a impulsividade, o desconhecimento, o estereótipo, a ganância, o egocentrismo, o antropocentrismo, a impulsividade, o maquiavelismo, o ódio, a raiva, a avareza, têm de ser constantemente controladas nas cearas e nos pomares do espírito humano.
Sem temperança somos apenas vermes e o universo inteiro ri-se de nós.
Enquanto nos perdemos e nos matamos, o universo inteiro ri-se de nós.
A Temperança é o único caminho para a Liberdade.
Paulo Gil Cardoso

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