OPINIÃO

Olá, Vagos! Da Dinamarca com amor

Opinião

São grandes os desafios da parentalidade. A minha filha não quer saber se me deitei cedo ou tarde, às sete e meia já está a chamar por mim para mais um dia. O que é que fazemos? Como é que a distraio? Como é que preencho o tempo dela para a afastar dos ecrãs – puro hipnotismo infantil? Fazemos um puzzle? Lemos um livro? Vamos passear? Neste momento em que vos escrevo, sentado ao lado dela no banco de trás do carro, acabou de fazer uma birra porque vai sentada na cadeirinha e quer tirar o cinto. Como é que lhe explicamos que não pode ser?
O grito não é solução. Não podemos pedir a uma criança de dois anos para que compreenda a necessidade de se usar cinto. Podemos tentar, claro! Mas é bem possível que daqui a 10 minutos tenhamos de dar igual explicação. Um “belo” tabefe também não é adequado. As mentes tacanhas e antiquadas, que guardam sempre no bolso a cartada do “no meu tempo…!” já devem estar a olhar de soslaio para este artigo. Lamento mas sempre acreditei que medo não é aprendizagem.
Demorei muitos anos a perceber que os meus pais não sabiam tudo. Que nem sempre sabiam como reagir e que por vezes reagiram mal mesmo quando não era essa a sua intenção. E como acredito muito que estamos sempre aptos a aprender – até aos 100 anos! – dei por mim a comprar um livro sobre a educação nos países nórdicos. Neste caso em particular, na Dinamarca, um dos países para o qual já teria emigrado se não fossemos dois nesta relação. Há várias coisas que me fascinam na social-democracia nórdica. Não fosse eu um fã incondicional de uma boa redistribuição de riqueza e de menor desigualdade, algo que – pasme-se! – promove um incremento da felicidade e do bem estar geral.
Não fosse eu um adepto incondicional de um forte e capacitado sistema de saúde, disponível para tratar todos os que necessitem e até mesmo os que não têm meios para. Não fosse eu crente de que todos beneficiamos de políticas comunitárias, que nos permitem aumentar a confiança no outro. Há uma estatística que afirma que 79% dos dinamarqueses confiam na maioria das pessoas. E como o mundo seria melhor se pudéssemos todos confiar muito mais uns nos outros. Confiança que permite à Dinamarca gozar do estatuto de país menos corrupto no mundo. Para além disso, os países nórdicos tendem a estar no topo dos rankings de felicidade.
E não fosse eu adepto de uma forte aposta na educação. De uma forte educação pública com professores bem capacitados para tal. Porque a educação de hoje são os proveitos do amanhã e jovens esclarecidos transformam-se em adultos qualificados. Custe o que custar! Sabiam que o dinamarquês médio paga 35% do seu rendimento em impostos enquanto a média da OCDE ronda os 24%? Também ajuda o facto de ganharem bastante bem – algo que se aproxima dos 5 mil euros, brutos. Mesmo trabalhando, em média, 33 horas por semana… Não é assim tão mau, certo?
Vagos podia ser igual. Mas não quer. Se eu propuser o encerramento de vias perto de escolas a veículos de quatro rodas, os vaguenses chamam-me maluco. Se eu propuser limites de 30 km/h e radares por essas ruas fora, chamam-me maluco. Se eu disser que o incentivo à separação do lixo deve ser realizada no secundário, chamam-me maluco. Se eu disser que a maioria das deslocações dentro do concelho devem ser feitas de bicicleta, chamam-me maluco. Acredito, porém, que seja uma maluquice saudável. E que Vagos podia, efetivamente, querer igualar-se ao que de bom se faz lá fora ao invés de se limitar a copiar o que é feito a meros quilómetros. Uma mudança que pode começar já hoje, dentro de cada um. Vamos ser melhores?

Nuno Margarido
Mestre em Comunicação

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