Editorial
Fomos a eleições, um ano depois das últimas, e Luís Montenegro voltou a ganhar – com um resultado agora reforçado, com a AD a conseguir eleger mais deputados do que tinha. Mas, ainda assim, o PSD e o CDS não alcançaram a tão desejada maioria absoluta, que lhes garantiria a estabilidade política durante quatro anos. Do outro lado, PS e Chega igualaram o número de representantes eleitos para a Assembleia da República. E a Iniciativa Liberal, sobre a qual se especulou vir a coligar-se após as eleições com a AD – para que os dois partidos, juntos, perfizessem a maioria do hemiciclo – ficou aquém das expectativas. Ou seja, a IL juntar-se, ou não, à AD tornou-se irrelevante. Por isso, deparamo-nos com a questão que já existia na legislatura passada, agora agravada: como é que o Governo vai conseguir manter-se em funções durante quatro anos?
Tanto se falou, nos últimos tempos antes da queda do Governo de Montenegro, que era necessário haver “adultos na sala”. O parlamento havia-se tornado, por aquela altura, um espaço mais parecido com um café cheio de comentadores da bola – ou com o recreio de uma escola –, com culpas a serem atiradas para vários lados, mas sem soluções à vista que colocassem o país – os portugueses – acima de tudo. Não se viram, no final das contas, os tão falados “adultos na sala”, referidos por tantos políticos.
Agora, mais do que nunca, vai ser necessário existirem “adultos na sala”. Portugal não pode ser empurrado para mais eleições antecipadas. E não o pode por vários motivos, entre os quais a necessidade urgente de sairmos da estagnação para a qual um processo eleitoral precoce nos empurra. Além disso, mais eleições nos próximos tempos, com a subida vertiginosa da extrema-direita, serão tudo menos benéficas. A História conta-nos que no extremismo não se encontram soluções. Mais depressa se encontram ralações.
As conversações, à esquerda e à direita, terão de chegar a bom porto. Chegou ao fim o tempo dos arremessos de culpas, das birras, das jogadas partidárias. É tempo de colocar o interesse do país à frente de tudo isso. E que quem foi eleito para a Assembleia da República mostre, efetivamente, que percebe a responsabilidade das funções que lhe foram confiadas. Goste-se, ou não, tenha-se ou não votado nele, é imperativo que Luís Montenegro e o seu Governo consigam governar. O povo elegeu-os. Por isso, mostrem-se agora, adultos!
Salomé Filipe
Diretora do Jornal