O luto, quando atravessa os muros de uma casa de acolhimento, não é apenas um sentimento individual, ele ecoa, mesmo que em intensidades diferenciadas, em cada coração e em cada rotina que antes era partilhada. Este ano, particularmente duro, fomos marcados por duas perdas profundas, a de uma jovem acolhida e de uma auxiliar de ação educativa. A doença consegue ser violenta arrastando pessoas de todas as idades e nós não lhe escapamos. São duas presenças únicas, perdas insubstituíveis, que deixarão memórias em todas as que conviveram com elas.
A jovem que partiu carregava em si a vulnerabilidade e a revolta de quem enfrentava uma batalha silenciosa contra a doença. A sua entrada na casa de acolhimento foi tão difícil como foi depois a sua partida. São os processos mais difíceis que nos provocam, nos testam, nos ensinam a sermos flexíveis, empáticos e a procurar soluções diferentes para resolvermos desafios. Ainda o vazio desta ausência estava a ser trabalhado quando perdemos a Lucília, que foi auxiliar de ação educativa desde a constituição desta CAR e já antes funcionária da ERPI. A Cila, como era tratada, era mais do que uma profissional, era apoio, era colo, era uma referência para as colegas, mas especialmente para tantas jovens que passaram pelos seus abraços. Com dedicação, amor e firmeza, ela ajudava a construir um lar dentro da instituição, um lugar de cuidado, proteção, alegria e brincadeira quando era importante pintar a vida com cor. A sua ausência é sentida em cada abraço que falta em cada detalhe da rotina que ela ajudava a manter com carinho e disciplina e vai ser assim enquanto existirem meninas nesta CAR que aproveitaram o seu colo.
Lidar com o luto num espaço de acolhimento é um desafio delicado. As adolescentes, muitas vezes marcadas por perdas anteriores, revivem dores antigas e os profissionais, por mais preparados que estejam, também sofrem porque neste trabalho, o vínculo não é opcional, ele constrói-se no dia a dia com a convivência a partilha e a solidariedade que este trabalho exige.
Seguimos em frente, com a dor ainda presente, mas com a certeza de que aquelas que partiram deixaram sementes de afeto, coragem e humanidade que continuam a florescer em cada um de nós. Que a memória delas permaneça nos nossos corações e que o legado das suas histórias de vida nos continue a inspirar, a cuidar, a acolher e a amar.

Casa de Acolhimento Residencial

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