Cantinho do João Ferreira
Sou do tempo do “Mundo de Aventuras”, que foi publicado pela “Agência Portuguesa de Revistas” desde 1949 até 1987 (cheguei a comprar exemplares em Lisboa quando lá trabalhei de servente). Esta agência também possuía a revista de cinema: “A Plateia” que também já findou… na verdade parece que tudo desses tempos já findou, visto que a própria “Agência Portuguesa de Revistas” já não se encontra em funções.
Voltando ao “Mundo de Aventuras”, que eu colecionei quando trabalhava com o meu irmão Manuel Armando Ferreira na Cerâmica de Vagos (que já não existe tão pouco, sendo apenas chaminé e descampado com paredes à beira da casa do meu neto) e na altura era conhecida como “Os vinte e sete”. Esse “Mundo de Aventuras” era uma pequena revista de 8 páginas soltas que versava sobre aventuras de toda a espécie. Lembro-me de histórias desta revista, sérias e lindas… era sempre uma felicidade muito grande a quinta-feira desses tempos em que ainda havia o quiosque no canto da praça, onde hoje é o Palácio da Justiça: era à quinta-feira que saía o “Mundo de Aventuras”. A nossa mãe levava-nos o almoço à fábrica e dividíamos a revista em duas folhas a cada um e o meu irmão dizia sempre: – Hoje é dia de “Mundo de Aventuras! Até o dia tem outra cor!
Ainda colecionei em Lisboa, na travessa da ilha do grilo, e até comprei exemplares a senhoras que vendiam essas edições mais antigas pelos lados da estação do Rossio, para ter a coleção completa que cheguei a ter. Essa coleção completa, como muitas coisas do meu passado, esfumou-se num episódio que não tem interesse aqui lembrar (a única coisa que não esfuma é a minha memória).
Além dessas revistas, lembro também jornais desportivos que findaram, exemplos seriam: “Stadium”, “Norte Desportivo” e “Mundo Desportivo”, todos esses periódicos que à data “saboreava” com gosto. O “Stadium” era de Lisboa, os outros dois eram mais do norte (como num dos casos, o nome indica). Sendo todas as notícias datadas, não tenho muito que falar destes periódicos, e assim debruçar-me sobre ainda mais três revistas, que como parece ser tema, já findaram: “O Mosquito”, “O Camarada” e a “Coleção Condor”. D”’O mosquito” surge uma história das mais curiosas e a qual nunca poderei esquecer: havia uma página que se chamava a “Página dos Leitores” para podíamos enviar via correio desenhos autorais para serem publicados. Enviei vários desenhos, que por regra tinham ser a tinta-da-China e de um determinado tamanha, por forma a manter o monocromático e caberem.
A revista reduzia os originais para um terço do tamanho para caberem mais desenhos e a meu ver até melhorava a qualidade ficando todos mais lindos. Aqui é que a história se torna interessantíssima: havia mais dois indivíduos de Vagos que também enviavam desenhos, o Sr. Manuel Pedro da Rocha Martins e o Sr. Mário Duarte Lacerda Cunha, ambos finados. Nós os três, aos domingos, desenhávamos na casa dos pais dos Sr. Manuel Pedro, que deixou também de existir para dar espaço aos prédios e centro comercial Narciso. Cada um desenhava o que lhe apetecia e a revista saia publicada com os nossos trabalhos. Aconteceu até, que tendo dedicado um trabalho a um desenhista que nunca conheci cara a cara, o mesmo retornou a honra.
O mais curioso de tudo, é que o Sr. Mário Lacerda passava os dias a desenhar e escrever para “O Mosquito”, despreocupado e um dia apareceu, um desenho dele que vinha com resposta da própria revista: “Caro leitor, recebemos uma carta tua, com 26 desenhos e alguns escritos e vemo-nos forçados a “elogiar” a tua fecundidade artística epistolar inigualável.” O Sr. Mário não ligou, continuando a desenhar e escrever, e enviar para “O Mosquito”, todos os seus trabalhos.
Assim termino este artigo com grande agrado, fazendo imagem de uma capa de “O Mosquito”, retirada pela esposa do meu neto, Ana Pataca, de um artigo do jornal O Público por Carlos Pessoa que data a janeiro de 2011.
Um bem-haja aos ávidos leitores do Eco de Vagos.

João dos Santos Ferreira
